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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Elmano Sadino

15
Set15

 

 

Nasceu em Setúbal, no dia 15 de Setembro, há duzentos e cinquenta anos,  o poeta Bocage, conhecido pela rua irreverência, pela poesia satírica, que declamava nos bares, nas ruas. É o poeta dos palavrões, da palavra crua sem receios. Fala de tudo e de todos, sem mansidão, criticando de uma forma aberta a sua época. É um desbocado. A sua figura em pedra encontra-se numa praça em Setúbal, lá do alto afasta os pombos que lhe sujam a manta que tem ao ombro, está eternizado à espera da última moda.  Tanta gente que passa pela praça, mas poucos conseguirão recitar os seus poemas. :) 

 

Poema: 

 

A Água 

 

Meus senhores eu sou a água
que lava a cara, que lava os olhos
que lava a rata e os entrefolhos
que lava a nabiça e os agriões
que lava a piça e os colhões
que lava as damas e o que está vago
pois lava as mamas e por onde cago.

Meus senhores aqui está a água
que rega a salsa e o rabanete
que lava a língua a quem faz minete
que lava o chibo mesmo da raspa
tira o cheiro a bacalhau rasca
que bebe o homem, que bebe o cão
que lava a cona e o berbigão.

Meus senhores aqui está a água
que lava os olhos e os grelinhos
que lava a cona e os paninhos
que lava o sangue das grandes lutas
que lava sérias e lava putas
apaga o lume e o borralho
e que lava as guelras ao caralho

Meus senhores aqui está a água
que rega rosas e manjericos
que lava o bidé, que lava penicos
tira mau cheiro das algibeiras
dá de beber ás fressureiras
lava a tromba a qualquer fantoche e
lava a boca depois de um broche.

 

Bocage

 

Alice Alfazema