Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

E é assim.

31
Ago21

sombra.jpg

Ilustração Ryo Takemasa

Ontem os meus vizinhos andaram em arrumações, são dois jovens rapazes, a mãe faleceu o mês passado, uma mulher na casa dos cinquenta, morreu vitima de cancro, presumo que nos tenhamos esquecido durante estes dois últimos anos que há outras doenças para além da covid-19, a não ser que elas nos batam também à porta. Há umas semanas disseram que agora iam à vida deles. E assim é. Estão-se despedindo pela última vez dos materiais aos quais a mãe deu uso. Vejo uma tábua de engomar, cestos, caixas, prateleiras, cadeira de escritório, vidros, molas de roupa...uma infinidade de despojos domésticos pessoais. 

Parecem-nos banais estes objectos se estiveram numa prateleira de uma loja, mas serão assim tão banais quando nos livramos deles envoltos nas nossas mais queridas recordações? 

No local onde estão os contentores de reciclagem está um mar de lembranças, daqui a algum tempo alguém lhes chamará de lixo, por agora ainda carregam os dias vividos de alguém.

Certamente chegará a hora da nossa ida, e não há objecto que dê para pagar a volta dessa viagem. Não nos é permitido levarmos bagagem, vamos como viemos. Sem qualquer necessidade carregamos demasiadas coisas. O objectos serão apenas sombras. O mais importante caberá apenas na nossa memória. 

 

2 comentários

  • Imagem de perfil

    Alice Alfazema 31.08.2021

    Lamento Sofia, é sempre difícil a tarefa de termos de dar rumo ao que ficou, provavelmente nunca haverá uma altura certa.

    Beijinhos
  • Comentar:

    Mais

    Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

    Este blog tem comentários moderados.