Corte
Ilustração Sonia Maria Luce Possentini
Quando somos crianças sentimos que temos todo o tempo do mundo, sentimos as coisas pela primeira vez, a magia da descoberta. À medida que o tempo passa tudo se vai desvanecendo, temos tendência a acreditar menos, a desconfiar, a ter mais medo. Cortamos emoções. Pegamos na tesoura do tempo e cortamos tiras fininhas para nos lembrarmos disto e daquilo. Depois o tempo passa e as tiras esvanecem-se. A tesoura enferruja e perde o corte. Sente-se o tempo a escorrer por entre os dedos. A isto dá-se o nome de crise de meia-idade. Haverá depois uma idade inteira onde poderemos deitar a tesoura fora, já não nos servirá para nada.
Alice Alfazema