Nestes últimos dias temos visto um céu baço e amarelado, são as poeiras vindas de África, empurradas pela depressão Célia, vou partilhar aqui a explicação dada pelo engenheiro agrónomo
Luís Alves:
Nos últimos dias o país foi tomado por uma imensa nuvem de pó, que viajou do deserto do Saara, no norte de África, e cobriu vastas áreas da Península Ibérica.
Um incómodo para a maioria de nós, uma bênção para ecossistemas terrestres e marinhos.
O que é hoje um dos maiores desertos do planeta, foi durante milhares de anos um lago que entretanto secou, expondo areias ricas em nutrientes, sobretudo ferro e fósforo, fundamentais no desenvolvimento das plantas e plâncton.
Dezenas de milhões de toneladas de pó viajam todos os anos do Saara para diferentes regiões, criando nuvens por vezes espessas e até chuva de lama.
Estas nuvens de pó servem de “combustível” para a floresta amazónica, atravessando regularmente o oceano Atlântico, carregadas de fósforo essencial à enorme biodiversidade, já que nos solos tropicais todo o que existe é facilmente lixiviado pela chuva frequente.
Cada vez mais cientistas afirmam que sem o seu fluxo regular, não seria possível tamanha biodiversidade.
Vivemos num paraíso absolutamente extraordinário.
Para podermos sobreviver como espécie, é urgente formar o nosso legado, para que consigamos compreender e respeitar o mundo que nos rodeia.
O pó que viaja de um extinto lago do norte de África, hoje um lugar inóspito, vai fertilizar solos e oceanos em vários lugares do mundo.
Estamos demasiado distraídos para perceber que a incómoda nuvem de pó é afinal um enorme sinal de esperança.
Fotografia José Maurício (rio Sado, Setúbal)
Gratidão por todos aqueles que são voluntários pela paz através das palavras
:
Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza,
Pelas aves que voam no olhar de uma criança,
Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
Pela branda melodia do rumor dos regatos,
Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos,
Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pela futura manhã dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz.
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre as portas da História,
deixa passar a Vida!
Poema de Natália Correia, in ‘Inéditos (1985/1990)