Ilustração Mariateresa Quercia
Ter alguém que nos escute e que oiça as nossas palavras é talvez o mais puro azul encontrado entre o ente e o ser, é algo tão cristalino que temos dificuldade em percebe-lo, e por vezes quando nos somos apresentados nem damos por isso tal é a transparência do encontro.
Ouve-me: preciso de um amigo que abane o (meu) mundo.
Não sei se escutaste bem: tem de ter um coração de ave,
mas o seu grito contra o mal tem de ser forte como trovão.
Se eu cair, há-de levantar-me como se eu fosse pluma.
Soprará nas minhas feridas e a minha dor passará como nuvem.
Sempre quis um amigo assim.
Quando a solidão me fechava num quarto, ele abria janelas.
Se as lágrimas rolavam porque alguém partira, bebia-as como licor.
Sabia que voltava para o seu país quando há muito os meus olhos dormiam.
Disse-me num por do sol que chegaria um dia em que eu não daria pela sua
ausência.
Ficaria a vigiar-me do seu país e daria recomendações às estrelas, à lua e aos peixes.
Faltou uma manhã e não mais voltou.
Poema de Lília Tavares