As mulheres e a depressão
Um dia destes, alguém me confessou que estava muito cansada, que só tinha sono, e que o que mais queria da vida era dormir. Mas, não consigo, eu deito-me muito tarde, fico a fazer as coisas. Disse-me que já tinha deixado os comprimidos, mas que tinha voltado a tomá-los, acha que assim fica melhor, que os problemas que tem não são grandes, mas que lhe parecem enormes.
É depressão diagnosticou-lhe o médico. Eu que me dedico ao estudo da causas sociais, digo que o que ela padece é o síndroma da super mulher, agravado pelas pessoas que se colam a si, e são os filhos, o marido, a cadela, a casa às costas, os vidros por limpar, a roupa por passar, o emprego, as amigas que sabem fazer tudo muito bem, as colegas que são verdadeiras fadas do lar, a sociedade, a idade, a menopausa, a falta de férias, a baixa autoestima, a cultura portuguesa, o baixo rendimento salarial.
A medicação encolhe na sua mente os problemas, a ansiedade diminuí, dá-lhe asas e leva-a para o limbo das soluções. Flutua. Quer dormir. Muito. Para esquecer. Para descansar. Para poder viver: livre.
Quantas estão nesta situação? A escolha da vida que temos é um cliché.
Alice Alfazema