As flores também sorriem?
Eu não tenho muita curiosidade sobre o que há para além da morte, mas tenho uma imensa curiosidade em saber como vão reagir à minha morte, quem vai sentir a minha falta, o que vão dizer sobre mim, quais as palavras que me diríam num último adeus.
Se às vezes digo que as flores sorriem
E se eu disser que os rios cantam,
Não é porque eu julgue que há sorrisos nas flores
E cantos no correr dos rios...
É porque assim faço mais sentir aos homens falsos
A existência verdadeiramente real das flores e dos rios.
Porque escrevo para eles me lerem sacrifico-me às vezes
À sua estupidez de sentidos...
Não concordo comigo mas absolvo-me,
Porque só sou essa cousa séria, um intérprete da Natureza,
Porque há homens que não percebem a sua linguagem,
Por ela não ser linguagem nenhuma.
Poema de Alberto Caeiro