Amar pelos Dois
Pedi ao meu filho, que é rapaz que percebe de música, que escrevesse algo sobre a canção do Salvador Sobral:
Erguem-se os arcos e num toque suave vibram as cordas em sintonia com o mundo, num tom deslumbrantemente florestal, enraizando as almas apegadas à magia da primeira escala. Os olhos fecham-se para ouvir o vento murmurando as palavras da estória de amor, entre acordes subtis e ricos de paixão, revelando a perfeição sobreposta à dissonância. Em crescendo, o vento solitário sopra para o horizonte infinitamente vazio à visão, em ondas expressivas e frágeis, em rondó de emoções. Uma harmonia misteriosa e nas ramagens cai o silêncio.
Fez-me esse texto acima, eu disse-lhe que queria uma análise musical, ele diz-me que o meu blogue não tem coisas técnicas, por isso escreveu assim. Peço-lhe outra vez, e ele escreveu este texto abaixo:
O violino voa, dialoga com o violoncelo no primeiro conjunto de frases, intermediadas de tremolos, personificando homem e mulher, quando por entre suspensões, surge a sussurrada anacruse da personagem principal, desvanecendo o vibrar das cordas, para culminar num acorde de “Fá Maior com Sétima Maior” no piano, um chamamento à bossa-nova brasileira. A viagem deste dueto continua na calma de um andante movimentado numa base disfarçadamente jazzística com progressões harmónicas extraterrestres na radiofonia atual, hipnotizando o ouvinte sem este se aperceber, florescendo também passagens de cordas em vaivém, assumindo por vezes a sua própria independência, independência esta que constrói o trampolim para o nosso Salvador transformar-se celestial.
Dois textos para Amar pelos Dois. Que o universo vos faça feliz! A ti e ao Salvador!
Alice Alfazema