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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

A irmã do vírus COVID-19 chama-se crueldade

05
Set20

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Ilustração Francisco Fonseca

 

Eu tenho uma janela para o mundo. Tu tens uma janela para o mundo. Eles têm uma janela para o mundo. Todos os dias o Sol incide a sua luz e o seu calor nessa janela. Todos os dias a Lua espreita por ela, umas vezes mais cheia, outras mais pequenina. Nessa janela acontece de tudo, há barulho, há silêncio, há roupa estendida, há plantas verdes. É uma janela com vidros frágeis, mas a paisagem tem muito alcance. Assomam-se nela aranhas e pequenos mosquitos. E veio um vírus, num ano metade/metade, com dois números iguais, duas fatias lado a lado, a saúde mental alterou-se por todo o lado, o medo anda no bolso de qualquer um, as pessoas não visitam a família, nem comemoram com jantaradas à roda da mesa de sempre, dizem que não querem contagiar ninguém. As pessoas pensam nos outros, têm um coração grande. Mas por detrás da janela que dá para o mundo mora um vazio que magoa, que cria raízes, que se entranha por todo o lado até chegar à janela. E as pessoas boas? As pessoas boas andam a comer em restaurantes e passear-se por tudo quanto é lado. Por aí há muito álcool gel e a limpeza é feita a preceito. E por onde anda o vírus? Esse está à janela daquele que ouve a desculpa. 

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