A estrada está lavada e os fantasmas estão molhados
da saga: uma caminhada por dia
Hoje descuidei-me e deixei fugir o sol. Choveu grande parte do dia e a estrada ficou lavada, o alcatrão luzia no escuro como se tivesse sido escovado a preceito. A humidade sentia-se no ar. Havia um silêncio intimador que parecia impregnar cada passo, cada árvore, cada pedra do lancil. Umas nuvens vindas do Atlântico ameaçavam desabar em cima de nós. Fugimos delas numa caminhada nada acelerada. Um frio fininho acercava-se do nariz, dando a sensação que podia ser arrancado a qualquer momento.
Os fantasmas deram-se a mostrar num brevíssimo instante, traziam as vestes molhadas, e fundiam-se com a paisagem, sobressaltaram-se connosco, e dissolveram-se, levando consigo qualquer vestígio. Ficaram as ruas molhadas, o reflexo dos candeeiros, o castelo iluminado lá ao longe, uma nesga de infância.