À beira do Oceano Atlântico
Uma opinião escrita na praia, tem o mesmo sentido critico daquela que foi escrita numa secretária? S
Não é difícil sentirmo-nos pequeninos defronte da beleza selvagem da Natureza.
Todos deveríamos poder usufruir deste mundo com a mesma intensidade com que corremos até ao óvulo, nesses minutos desenfreados na busca da vida. Logo aí somos confrontados pela primeira vez com o nosso diminuto tamanho, estamos sempre uns números abaixo da coragem, da esperança, do crer e do poder.
Milhões de bagos de areia reflectem a luminosidade do sol, e a idade da Terra, aguentam as intempéries, moldam-se debaixo dos pés, juntam-se e separam-se com imensa facilidade, desfazem-se numa palma de mão aberta, servem para contar o tempo. Abarcam as raízes mais resilientes que dão vida às dunas.
Num processo cíclico, de sol a sol, de lua a lua, fragmentos de conchas são batidos onda a onda até se transformarem neste dourado quente e macio. Que nunca nos acabe a memória, que nunca nos acabe o som incessante do mar. Qual líquido uterino, que acolhe e alimenta.
Estamos em junho, de um ano muito sofrido, pergunto-me, então qual é a margem mais importante deste mar (?), como se houvesse um lado com maior importância, talvez por isso os planetas sejam redondos como forma de equidade.
O resto? O resto é para pensar, e escrever o que ficou por dizer, porque mais não me pertencerá opinar, quer sobre a seca extrema que assola Portugal, nem sobre os campos de golfe situados mais a sul destas dunas - consumidores compulsivos da nossa água potável- que ao que parece ainda é um bem comum no nosso país, nem sobre o cultivo de relvados para campos de futebol que bebem milhares de litradas de água doce que existe no subsolo. Tudo isto aqui tão perto do paraíso, mais a construção - autorizadíssima - e desenfreadas de resorts e casas de luxo. E vivam as dunas! Vivam enquanto durarem, tal como o amor, é eterno enquanto existe.