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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

povos

03
Nov22

 

 Ilustração  Siiri Väisänen

Acho muito significativo, sob esse ponto de vista, que Husak tenha mandado expulsar das universidades e dos institutos científicos cento e quarenta e cinco historiadores tchecos. (Dizem que, para cada historiador, misteriosamente, como num conto de fadas, um novo monumento de Lenine surgiu em alguma parte da Boémia.) Em 1971, um desses historiadores, Milan Hübl, com seus óculos de lentes extraordinariamente grossas, estava no meu apartamento da Rua Bartolomejska. Olhávamos pela janela as torres do Hradeany e estávamos tristes.

- Para liquidar os povos- dizia Hübl-, começa-se por lhes tirar a memória. Destroem-se seus livros, sua cultura, sua história. E uma pessoa lhes escreve outros livros, lhes dá uma outra cultura e lhes inventa uma outra história. Em seguida, o povo começa lentamente a esquecer o que é e o que era. O mundo à sua volta o esquece ainda mais depressa.

Milan Kundera, in O livro do riso e do esquecimento

 

 

 

O povo russo precisa da coragem dos ucranianos

30
Set22

Estamos vivendo um começo de outono medonho, perante os holofotes mundiais o mágico assassino em massa anexa agora quatro regiões da Ucrânia, que segundo os filhos da puta foram considerados através de referendo realizados em clima de guerra e sem grande parte da população residente, é assim desta forma que Putin e seus capachos, ou talvez seja ele o capacho, sim porque isto de poder tem muito que se lhe diga, desenvolvem a democracia da mãe Rússia, tenho pena daquele povo, por ser tão obediente, tomara que eles tivessem metade da coragem dos ucranianos e poderiam ter acesso a um país melhor, líderes assim desprezíveis escolhem viver entre gente aprisionada, porque de outra forma nunca ninguém lhes iria dar valor. A decisão está apenas no povo e naquilo que realmente querem. 

Oração

24
Mai22

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Ilustração Alicia Varela
 
 
Se eu rezasse, pediria compaixão
para os que não amam, para os que não sabem
para onde olhar quando estão sós e lhes falta
um rosto amado na memória, para os que
olham para uma flor e só pensam no dia em que
irá morrer. Talvez o amor não seja a única
salvação dos que precisam de tudo, nem
a cura para os males de quem não sabe
o que é o sonho. Porém, sem ele, as suas mãos
serão ainda mais vazias, e as suas noites
não terão o horizonte de uma luz ao
amanhecer. Penso em todos eles, por
quem rezaria, se eu rezasse, e é o teu rosto
que eu vejo à minha frente, são as tuas mãos
que procuram as minhas, e é a tua existência,
só pelo facto de existires, que acende
na minha noite cada futura manhã. E rezo,
afinal, no fim de tudo, rezo para que a tua voz
não me falte, o teu corpo se vista com o perfume
do campo e por ti corra, sempre, o rio deste amor.
 
 
Poema de Nuno Júdice