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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Coisas do nosso tempo - Fascismo democrático e religioso

12
Ago19

Não deixa de ser irónico que, na viragem do século, o fascismo tenha, enfim, descoberto na democracia o seu habitat mais confortável para se manter e desenvolver.

 

À vista de todos, com a bênção de todos.

 

Retirado do blogue - Porto de Amato

Ao domingo

27
Jan19

 

Ilustração Jody Hewgill

 

É domingo as pessoas juntam-se e vão à igreja, rezam e pedem, algumas agradecem. A catequista está lá presente para orientar as crianças. Está um dia de muito frio, de nuvens cinzentas e de vento agreste. As pessoas têm casacos quentes e sorriem. O frio arrepia-me  a pele. Como sempre reparo que os fiéis estacionam os carros em cima do passeio, ocupando todo o espaço de passagem de quem vai a pé. Têm estacionamento a cinquenta metros, mas é  demasiado para andarem com os sapatos domingueiros. batem com a mão no peito e repetem orações. É bom estar debaixo daquele telheiro. A catequista voltará às suas cusquices de maldizer semanais, agora é apenas um intervalo. Bom domingo!

 

 

 

Negrume

10
Jan19

 

Ilustração Beatrix Papp 

 

 

Hoje quando ia caminho de casa vi um vulto a correr para uma carrinha, daquelas de transportes escolares, assustei-me e não percebi logo o que se passava. Era uma mulher. Uma mulher de burca negra, que conforme corria levantava as saias e deixava ver umas vestes coloridas por baixo daquele negrume. 

 

Um coisa é vermos fotografias destas vestes, outra é vermos ao vivo e a cores. É uma realidade e um fardo para muitas mulheres. Não creio que se goste de andar assim vestido de livre vontade, é antes um hábito imposto. Pensei na pessoa que conduzia a carrinha e que lhe ia entregar o filho. Como podemos entregar uma criança alguém a quem não vemos a cara. Será a pessoa certa, pode ser qualquer um. Faz-me confusão. 

 

Pensei na mulher, reduzida a uma coisa, sem sentir o sol na cara, sem se mostrar, como se fosse um monstro. Que agonia, termos o nosso corpo refém da vontade dos outros. Tal qual um pássaro numa gaiola vendo os outros voarem.

 

E ficou-me na memória a imagem da mulher a correr com aquele manto escuro, que deixava apenas os olhos de fora, mas que ao correr o vento deixou antever um colorido tão bonito por baixo daquele negrume.

 

Tal como a vida cheia de camadas, fases de lua e dias de sol, o vento, o frio, a chuva e o calor, tudo num breve passo de corrida.