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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

4

04
Mar21

rosmaninho.jpg

Batidas na porta da frente
é o tempo
Eu bebo um pouquinho pra ter
argumento
Mas fico sem jeito, calado
ele ri
Ele zomba de quanto eu chorei
porque sabe passar
e eu não sei

Num dia azul de verão sinto vento
há folhas no meu coração é o tempo
recordo um amor que eu perdi
ele ri
Diz que somos iguais
se eu notei
pois não sabe ficar
e eu também não sei

E gira em volta de mim
sussurra que apaga os caminhos
que amores terminam no escuro
sozinhos

Respondo que ele aprisiona,
eu liberto
Que ele adormece as paixões
e eu desperto
E o tempo se rói com inveja
de mim
Me vigia querendo aprender
Como eu morro de amor
pra tentar reviver

No fundo é uma eterna criança
que não soube amadurecer
Eu posso, ele não vai poder
me esquecer

 

 

Poema de Aldir Blanc  melodia Cristovão Bastos

 

 

O que virá

10
Nov20

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Ilustração Andrea Calisi

 

Fez-nos bem, muito bem, esta demora: 
Enrijou a coragem fatigada... 
Eis os nossos bordões da caminhada, 
Vai já rompendo o sol: vamos embora.

Este vinho, mais virgem do que a aurora, 
Tão virgem não o temos na jornada... 
Enchamos as cabaças: pela estrada, 
Daqui inda este néctar avigora!...

Cada um por seu lado!... Eu vou sozinho, 
Eu quero arrostar só todo o caminho, 
Eu posso resistir à grande calma!...

Deixai-me chorar mais e beber mais, 
Perseguir doidamente os meus ideais, 
E ter fé e sonhar — encher a alma.

 

Poema de Camilo Pessanha

 

 

 

 

 

 

 

Janeiro 20/20

5

05
Jan20

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Ilustração Pedro Tapa

 

Pensar-se enquanto animal consiste em preparar-se para aliviar a pressão da cultura sobre a natureza, e isso envolve a construção de um novo laço com o meio ambiente e as outras espécies. Se abandonamos a animalidade, ela não nos abandonou, e fala dentro da própria cultura. São ilusões, mitologias, hipertrofias que vão se dissolvendo e revelando uma realidade humana mais próxima, biológica e figurativamente, das bestas que dos anjos.

 

Jair Ferreira dos Santos, A reanimalização do homem