Pedaços do meu dia
Antes que o amanhã chegue e desfaça em mil pedaços esta flor, deixo-a aqui colhida.
O meu dia foi laranja, sentei-me no banco dos palavrões e aqueci-me ao sol, conversei e gargalhei. As lavandas chamaram por mim, acenavam-me alegremente e disseram-me: hoje não há gritos, e riram-se baixinho, só eu as ouvi.
Mas o meu dia ficou laranja de novo. Alguém trouxe um manjar do céu, doce, doce, doce.
E gargalhei de novo, bebi chá, e voltei a gargalhar. O doce foi ficando levezinho e o fundo foi avistado, a pequena colher ficou como testemunha, ninguém teve culpa.
O dia adormeceu trigueiro. As flores foram dormir, não sabemos quais vão sobreviver, amanhã certamente haverá gritos, mas deste dia ficaram as gargalhadas e o doce tão doce, a amizade e o companheirismo que ainda não tinha aqui revelado, mas do qual sou abundantemente abençoada.
E foi assim o meu dia tão laranja.
Alice Alfazema




