O prazer nascendo dói tanto no peito que se prefere sentir a habituada dor ao insólito prazer. A alegria verdadeira não tem explicação possível, não tem a possibilidade de ser compreendida - e se parece com o início de uma perdição irrecuperável. Esse fundir-se total é insuportavelmente bom - como se a morte fosse o nosso bem maior e final, só que não é a morte, é a vida incomensurável que chega a se parecer com a grandeza da morte. Deve-se deixar inundar pela alegria aos poucos - pois é a vida nascendo. E quem não tiver força, que antes cubra cada nervo com uma película protetora, com uma película de morte para poder tolerar a vida. Essa película pode consistir em qualquer ato formal protetor, em qualquer silêncio ou em várias palavras sem sentido. Pois o prazer não é de se brincar com ele. Ele é nós.
Na teoria a saúde mental é muito falada, estudos, artigos de opinião, livros, especialistas, depois é o que se vê na prática, pode-se dizer quase tudo sobre uma pessoa a troco de visualizações, dinheiro, e pura maldade. Há também outra variante, que são as pessoas que se consideram muito francas, que se dizem sem filtros, para mim não são mais do que meros tolos, pois dizem tudo sem pensar, disfarçados pela capa de francos e sinceros, espalham a sua maldade a seu belo prazer, parece que é moda desrespeitar os outros, desde que seja na base da franqueza, coisa reles que alastra e é fácil fazer.
No meu sonho desfilam as visões, Espectros dos meus próprios pensamentos, Como um bando levado pelos ventos, Arrebatado em vastos turbilhões...
Numa espiral, de estranhas contorções, E donde saem gritos e lamentos, Vejo-os passar, em grupos nevoentos, Distingo-lhes, a espaços, as feições...
‑ Fantasmas de mim mesmo e da minha alma, Que me fitais com formidável calma, Levados na onda turva do escarcéu,
Quem sois vós, meus irmãos e meus algozes? Quem sois, visões misérrimas e atrozes? Ai de mim! ai de mim! e quem sou eu?!...
Trouxe as palavras e colocou-as sobre a mesa. Trouxe-as dentro das mãos fechadas (alguns disseram que apenas escondia as feridas do silêncio).
Pousou-as na mesa e começou a abri-las devagar, tão devagar como passa o tempo quando o tempo não passa. E depois distribui-as pelos outros, multiplicou-se em dedos, em palavras (alguém disse que chegariam a todos, ultrapassariam os séculos e teriam a duração do tempo quando o tempo perdura).
Ceou com todos pão que não levedara e vinho áspero das videiras magras do monte que os ventos dizimavam. Quando se ergueu, havia ainda palavras sobre a mesa, coisas por dizer no resto do pão que alguém deixara, feridas fundas nas mãos que fechou em silêncio e devagar.