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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Verdade

Árvore de Natal

21
Dez22

agradecer.jpg 

Ilustração Adrie Martens

 

Sim, é verdade. Os homens escolhem ser metade

Dividem-se ainda garotos por influência

Esquecem rapidamente do todo que outrora foram,

e mergulham no espelho caduco das formas sociais

Brincar é a prova de amor entre diferentes,

e de tão apertados, enxutos, herméticos,

nascem completos

São uma única coisa, massa, sensação. Mas depois

dividem-se. Percebendo, querem de volta, e estão longe

 

Viver muito pode causar dependência

 

Poema Mayk Oliveira

 

Saúde Mental

Árvore de Natal

11
Dez22

onda.jpg  

Ilustração Alice Wellinger

Na teoria a saúde mental é muito falada, estudos, artigos de opinião, livros, especialistas, depois é o que se vê na prática, pode-se dizer quase tudo sobre uma pessoa a troco de visualizações, dinheiro, e pura maldade. Há também outra variante, que são as pessoas que se consideram muito francas, que se dizem sem filtros, para mim não são mais do que meros tolos, pois dizem tudo sem pensar, disfarçados pela capa de francos e sinceros, espalham a sua maldade a seu belo prazer, parece que é moda desrespeitar os outros, desde que seja na base da franqueza, coisa reles que alastra e é fácil fazer.

 

No meu sonho desfilam as visões, 
Espectros dos meus próprios pensamentos,
Como um bando levado pelos ventos, 
Arrebatado em vastos turbilhões... 

Numa espiral, de estranhas contorções, 
E donde saem gritos e lamentos, 
Vejo-os passar, em grupos nevoentos, 
Distingo-lhes, a espaços, as feições... 

‑ Fantasmas de mim mesmo e da minha alma, 
Que me fitais com formidável calma, 
Levados na onda turva do escarcéu, 

Quem sois vós, meus irmãos e meus algozes? 
Quem sois, visões misérrimas e atrozes? 
Ai de mim! ai de mim! e quem sou eu?!...

Poema Antero de Quental

 

  

 

Empatia

Árvore de Natal

09
Dez22

ratos.jpg Ilustração Vasco Gargalo

 

Os ratos invadiram a cidade
povoaram as casas os ratos roeram
o coração das gentes.
Cada homem traz um rato na alma.
Na rua os ratos roeram a vida.
É proibido não ser rato.

Canto na toca. E sou um homem.
Os ratos não tiveram tempo de roer-me
os ratos não podem roer um homem
que grita não aos ratos.
Encho a toca de sol.
(Cá fora os ratos roeram o sol).
Encho a toca de luar.
(Cá fora os ratos roeram a lua).
Encho a toca de amor.
(Cá fora os ratos roeram o amor).

Na toca que já foi dos ratos cantam
os homens que não chiam. E cantando
a toca enche-se de sol.
(O pouco sol que os ratos não roeram).
                              Poema de Manuel Alegre

A linha da vida

Saúde mental

10
Out22

a linha da vida.jpg 

Ilustração  Nicky Photo et création numérique

 

«Somente a luz que cai continuamente do céu fornece a uma árvore a energia que crava profundamente na terra as suas poderosas raízes. A árvore está na verdade enraizada no céu.»

Simone Weil, A Pessoa e o Sagrado, p. 53

A frase acima foi surripiada do Delito de Opinião - desconhecia a história de vida autora, mas já andei a pesquisar,  e fiquei surpreendida com a missão de vida desta mulher, que pela sua breve viagem por este mundo escreveu tanto e viveu ainda mais. 

Há uma linha ténue entre a vida e a morte, entre a saúde e a doença, é certo que muitos factores externos ao individuo contribuem para acentuar a diferença entre a saúde e a doença, mas também é certo que depende em muito dos factores internos existentes no individuo, sendo assim a linha que separa as duas não é mais que a junção das duas, constituindo discussão desde há muito, se por um lado existe a ideia de que o individuo é o centro, e que parte dele toda a acção, há quem se apoie que isso depende de onde vem a acção externa que influencia o individuo.

No dia instaurado para chamar a atenção para a importância da nossa saúde mental, podemos concluir que apesar de termos hoje mais meios para sermos mais felizes, para vivermos mais anos com saúde, somos confrontados todos os dias com uma panóplia de informação que nos leva a entrarmos em confronto com os nossos sentimentos e com as nossas acções, se por um lado sentimos vontade de exercer a nossa vontade, por outro somos impedidos de aplicar aquilo que queremos. 

Sem dor física que suporte a evidencia de estar-se doente, a saúde mental é muito difícil de diagnosticar e de ser aceite como doença, quer pelo próprio, quer por aqueles que o rodeiam. Enquanto a dor emocional cresce é possível que também a sensação de vazio se instale e mine toda e qualquer vontade de sair daquele estado, e por vezes é quase impossível voltar a si, sem retorno, num desvio permanente, como uma curva sem fim à vista, no fundo a manutenção da nossa saúde mental deverá fazer-se sempre em boa companhia. Tal  como na visão de Simone Weil, a árvore está enraizada no céu, assim também nós estamos enraizados na sociedade, e como o céu nem sempre é límpido, nem sempre cinzento, azul, escuro ou claro, numa visão simplista o céu demonstra aquilo que somos e o que podemos ser, independentemente dos culpados serem factores externos ou internos.