Migalhas
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Ilustração Mariateresa Quercia
Ter alguém que nos escute e que oiça as nossas palavras é talvez o mais puro azul encontrado entre o ente e o ser, é algo tão cristalino que temos dificuldade em percebe-lo, e por vezes quando nos somos apresentados nem damos por isso tal é a transparência do encontro.
Quero voar com as fadas
nas nuvens que são almofadas
dos que gostam de sonhar,
vaguear pelo espaço
envolver no meu abraço
aquele que está a chorar;
Voar sobre os continentes
observar as diferentes gentes
que não param de labutar,
tristes ou sorridentes
ricas ou indigentes
fazem o mundo avançar;
Voar e ter a ousadia
de procurar noite e dia
os jardins da felicidade,
mostrar a quem quiser ver
que nada tem a perder
o que vive com verdade;
Quero com os anjos voar
ir com eles visitar
estrelas e constelações,
trazer desse pó sagrado
que não há em nenhum lado
para aquecer corações;
Quero voar, voar, voar
quero voar sem parar...
Poema Malik
Alice Alfazema
Tenho em casa um piano azul
E não conheço uma só nota.
Ele fica no escuro à porta do porão,
Desde que o mundo decaiu.
Tocado a quatro mãos-estelares
– A mulher-lua cantava no barco –
Hoje os ratos dançam sobre as teclas.
O teclado está quebrado…
Eu choro pelos mortos azuis.
Ah anjo amado
– eu comi do pão azedo –
Enquanto ainda estou viva
Eu lhe peço – embora seja proibido –
Abra pra mim as portas do céu.
Ilustrações Victoria Kirdy
Poema de Else Lasker-Schüler (1869–1945), poeta alemã e judia. Viveu em Berlim até à chegada de Hitler ao poder, em 1933.
Escorrem as cores vivas e alegres pelo pincel, onde se desenham cenas alegres e tranquilas, escorrem palavras negras cobertas de desespero, descem pela caneta que treme na mão. No mundo escorrem lágrimas nos rostos sujos que transmitem o medo, que mostram a fome. Escorrem laivos de loucura naqueles que olham para o lado.
Alice Alfazema