Conversas da escola - Em português do Brasil
Como sabem, já o disse aqui milhentas vezes, as auxiliares na minha escola são chamadas de "Contina", agora imaginem em português do Brasil:
- Conchtina, me dá um suco de maçã verde, por favor.
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Como sabem, já o disse aqui milhentas vezes, as auxiliares na minha escola são chamadas de "Contina", agora imaginem em português do Brasil:
- Conchtina, me dá um suco de maçã verde, por favor.
Tenho estado a pensar nesta estória dos miúdos aprenderem a andar de bicicleta na escola, para além do aumento de material para curativos, vamos também aumentar a conta do telefone, a telefonar para os pais a informar que os miúdos esfolaram os joelhos, ou que estão a caminho do hospital por causa de alguma queda, depois virão as queixas dos pais em como os curativos estão mal feitos, ou de como não segurámos na bicicleta, ou que não limpámos as rodinhas como deve ser.
Já temos queixas de que o bar deveria abrir mais cedo para os miúdos poderem tomar o pequeno almoço, uma vez que não o fazem em casa, vá-se lá saber porquê. Para mim, deveríamos de ter camaratas para dormirem na escola, assim tomavam banho, jantavam e dormiam. Nós poderíamos conversar com eles sobre diversos assuntos que seriam escolhidos em conselho pedagógico, iríamos às compras para aquilo que fosse preciso, roupas, calçado...É assim, a escola tem que se adaptar à sociedade, tais como os testes adaptados. Funcionaríamos como uma incubadora de pré-adultos. Educar do princípio ao fim seria o lema.
Não pensem que isto ainda não acontece. Acontece sim. Há miúdos à porta de escola muitos antes da abertura das aulas, há os que vêm de manhã e só têm aulas à tarde, e o contrário também existe. Somos muito mais que escola, somos também ATL, mães e pais, gente para orientar e alertar, gente que cuida. Gente que sabe que não têm lanche, que têm ansiedade, que precisam de carinho, de regras.
A escola é um ponto de encontro entre a vida de cá e a vida de lá, é o presente que muita gente reclama e exige, sem compreender muitas vezes o que por lá se passa. Dou-vos um exemplo: a associação de pais preocupa-se mais em termos estéticos do que em termos humanos, assim nas reuniões o tema em que a escola precisa de ser pintada é preferido ao tema de quantos auxiliares a escola necessita para funcionarmos em segurança? Aliás este último tema é ignorado constantemente. O que interessa é termos os portões abertos. O resto é paisagem.
Andar de bicicleta na escola? Sim. Almoçar e jantar na escola? Sim. Tomar banho na escola? Sim. Dormir na escola? Sim. E tudo mais? Sim. Estamos a dar um salto na evolução humana. Somos todos uma tribo educacional. Viva a tribo!
- Vocês estão em aula?
- Não. Estamos no ATL, viemos aqui à escola comprar o lanche e depois vamos outra vez para lá.
- Quero um chá?
- Então?
- Estou com dores no coração.
- Estás a ter aulas de educação física?
- Não, de matemática.
- Ah pois, a matemática faz muito mal ao coração.
*enquanto a miúda bebia o seu chá, olhava para nós e ria-se, com uma bochechas rechonchudas e rosadas (ri-te, ri-te).