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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Que parva que eu fui

13
Fev11

Assunto  de que se fala: hino da "geração parva"

 

 Na minha história eu poria o verbo no passado e diria:

 

Que parva que eu fui,

Começar a trabalhar antes dos quinze anos,

não viver a adolescência,

para ajudar os pais,

por uma ninharia...

levantar-me às 5h, viajar em dois transportes

e trabalhar nove horas diárias,

numa linha de produção...

 

Fazer greves e lutas laborais

para que o horário fosse reduzido

para que licença de maternidade

fosse uma realidade

para que a hora da mama

chegasse a ser verdade,

para que existisse

subsídio de refeição,

de férias e de Natal,

para que outras leis se tornassem uma realidade

tais como o direito ao estudo,

que parva que eu fui...

 

Se soubesse que esta geração

valor não lhe atribuí,

tinha ficado no meu canto,

esperando acontecer,

esmolando

me vitimizando

sentindo pena de mim

que parva que eu fui...

 

Os tempos que correm são difíceis,

nunca o foram fáceis,

a ninharia é a mesma,

que parva que eu fui...

podia ter ficado mais tempo na casa dos pais,

ter trabalhado menos,

não me ter sacrificado pelos filhos,

arranjava antes um cão...

punha as culpas nos outros,

e pensava antes na aparência

no casaco, no carro,

no perfume...

que parva que eu fui...

 

Agora não posso voltar atrás,

numa próxima encarnação...Quem sabe?

 

Alice A.

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