Em dia de temporal
Gosto dos dias de temporal. De quando a Natureza nos parece estar a chamar para a realidade da nossa pequenez. Gosto das folhas a voarem em redemoinhos, da humildade das árvores que se vergam ao vento, quando ainda se despem das últimas folhas. Gosto do zunir do vento. Da chuva a bater nos vidros. De ver as cordas dos estendais, vazios, a balançarem sem saber quando parar, doidas como a sociedade. De encontrar os restos de guarda-chuva que ficam espalhados pelas ruas, materiais humanos tão frágeis, que foram fustigados pelas brisas loucas.
Dantes eu ia até à serra só para poder ver e sentir o poder do mar e do vento. É um poder autêntico. Livre. Por isso gosto de apreciá-lo.
Alice Alfazema