A morte termina uma vida, não uma relação
Fotografia Patrícia Cruz
Fala-se da Morte como se fosse ela uma coisa proibida. Algo que só se deve falar em sussurro, para que ela não passe por nós.
Há doze anos perdi a minha mãe, perdi-a somente fisicamente, porque ela continua comigo todos os dias da minha vida. Aos pais que pensam que devem apenas educar os filhos para a vida, devem também fazê-lo educando-os para a sua própria morte. É muito importante as palavras que usamos, os gestos que temos, os exemplos que damos. Pois, eles, ficarão gravados na mente dos seus filhos. Não pensem que educar é simplesmente impor regras e normas, educar para a vida é dar abraços, transmitir alegria e motivação, é construir a energia emocional do seu filho, é essa energia que fica depois da sua morte, e é ela que permanece inalterada para sempre, por mais obstáculos que tenhamos que ultrapassar. Este exemplo poderá se estender a todos os tipos de relações que temos, aquilo que absorvemos dos outros, é uma troca de energia contínua e fortificadora.
Uma relação não termina com a morte, apenas a vida termina com ela, o poder que temos de recorrer à nossa própria memória transmite-nos essa relação, dá-nos a capacidade de voltar a escutar palavras, a sentir sensações e a migrar no tempo.
A relação com os filhos, na actualidade é muito superficial, educam-se os filhos apenas para o mundo do trabalho, o seu lado emocional é considerado secundário. Mas, é esse lado, que fortalece a pessoa, que o leva a ter e a adquirir, capacidades para que possa ter sucesso em outra áreas da sua vida. Não estou a falar de espiritismo, de religião, de seitas, falo do fio condutor que nunca separa os pais dos filhos, do fio condutor das relações entre pessoas, daquilo que foi e daquilo que ficou, daquilo que se transmite e daquilo que se absorve.
Um abraço não é apenas um gesto, é uma troca. Os gestos são trocas. Os exemplos são trocas. Os gritos são trocas. A violência é uma troca. As trocas são o principio original da relação. E quando há uma troca há um momento que não pode ser invalidado no tempo. É uma equivalência ao mundo monetário, só que não se resume apenas ao estado físico, fica para além dele e do tempo. É um instituição infinita.
Alice Alfazema