Da destruição à reconstrução
Por vezes a vida leva-nos por caminhos que julgávamos impensáveis de percorrer, de repente estamos dentro de uma armadilha colocada bem no meio do nosso quotidiano. E assim, pelo simples facto de não estar preparado para reconhecer certas atitudes de pessoas ditas normais, que até parecem banais, acaba-se por ficar preso num inferno, como que adormecido nas mais básicas emoções, porque "quando falamos de compaixão, devemos ter cuidado com um aspecto porque, se nos confundirmos, acabaremos por pagar um preço demasiado elevado, ou até mesmo impossível de liquidar".
Durante um tempo desvaloriza-se, desculpa-se isto e aquilo, tenta-se a todo o custo compreender o outro, no limite pode-se chegar ao ponto de ignorar até os próprios pensamentos e mais tarde o corpo. Vive-se então uma destruição total da dignidade humana, que foi construída com imenso esforço, e que leva à anulação da própria essência de forma a que se esqueçam objectivos, crenças, gostos e até sonhos. O prazer dilui-se nesta agonia. Neste pântano de emoções, onde o lodo consegue estagnar completamente as reacções que antes fluíam como um dia que nasce despreocupado e livre.
Na base, existem perguntas que devem ser feitas, mas sobretudo respondidas o mais rápido possível: " O que é que esta pessoa me traz realmente? Porque é que ainda está na minha vida? Faz-me algum bem? Faz-me algum mal? Causa-me algum tipo de desconforto?".
Talvez porque a resiliência tenha sido sempre um lema de vida, custa a acreditar no que está a acontecer, como é possível permitir, uma e outra vez, sermos feridos na nossa dignidade? A resposta não é fácil, mas é preciso aprender a seguir em frente, por mais que custe, "porque quando aceitamos totalmente aquilo que não depende de nós e que não está nas nossas mãos, é quando deixamos de tentar modificar o que não pode ser modificado e voltamos a fluir com a vida. É quando começamos a viver de novo."
As relações tóxicas remetem não só para relações amorosas, como também, para relações de amizade, familiares ou laborais.
Depois de aceitarmos e perceber o que existe, é urgente decidirmos para onde queremos ir a partir desse agora. É muito importante relembrar que as dúvidas e as mudanças provocam sofrimento, mas a vida é uma mudança constante. Lembrar que as experiências boas não nos fazem sofrer, são as más que provocam desconforto e trauma, que depois têm consequências no dia dia, quer connosco quer com os outros.
Somos sempre capazes, a capacidade de seguir em frente é transformadora, não seremos mais os mesmos, seremos certamente mais perspicazes.
Reconhecer que são pessoas que nunca irão mudar, ou que são pessoas que simplesmente não encaixamos, para as quais não merece o nosso precioso esforço, que essa batalha não nos pertence, porque "há pessoas que são boas, mas que acabam por agir de forma infantil, manipuladas por outra. E há pessoas que acreditamos serem boas de verdade, mas cuja única verdade é serem uma mentira".
A violência psicológica nas relações nalgumas vezes não é vista pelos demais, ou então existem véus, uns porque não se querem intrometer, ou porque lhes interessa assistir, ou porque ignoram simplesmente o que se passa, assumem muitas vezes que a vitima tem livre arbítrio e consente deliberadamente. Entretanto no meio deste labirinto está a pessoa que se julgava forte o suficiente para não cair nesta espécie de armadilha.
É importante, cuidar das relações, procurar compreender, saber identificar é fundamental, ter consciência do seu valor pessoal, onde começa e acaba a dignidade de cada um, estabelecer limites a tudo o que nos prejudica ou põe em risco a nossa saúde física em mental.
É importante, sermos e estarmos educados para a autoestima, reconhecer que quando o outro te faz duvidar de ti próprio a nível psicológico, conseguindo manipular ao ponto de levar a questionar a própria realidade, as memorias e até mesmo as percepções - isso é violência psicologia.
Tomar consciência da violência psicológica é ponto de partida para a propria reconstrução.
O texto em itálico pertence ao livro abaixo, o qual aconselho vivamente.