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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Daqui até ao Natal -16

04
Set24

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mais importante que ter uma memória é ter uma mesa
mais importante que já ter amado um dia é ter uma mesa sólida
uma mesa que é como uma cama diurna
com seu coração de árvore, de floresta
é importante em matéria de amor não meter os pés pelas mãos
mas mais importante é ter uma mesa
porque uma mesa é uma espécie de chão que apoia
os que ainda não caíram de vez

Ana Martins Marques


Dou por mim a pensar se reconheceria as vozes que outrora me chamaram, ou até os rostos, é inevitável a perda da memória à medida que o tempo nos afasta das pessoas vividas, então de repente ao virar de uma esquina, lá está um corpo parecido, vestimenta e corte de cabelo idêntico, aquela pele fininha e coberta de manchas castanhas da idade, e fico ali parada, a disfarçar que estou a olhar um pormenor qualquer, remexo a mala e ajeito os óculos de sol, dou novamente uns passos e olho para trás, um pensamento idiota vem-me à mente: e se eu lhe pedisse para lhe dar um abraço será que me deixava fazê-lo? Depressa se desfez o pensamento, começo novamente a andar, não olho mais para trás, mas arrependo-me, de não ter tido a ousadia suficiente. 

Daqui até ao Natal -15

02
Set24

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1º - Isto das redes tem que se lhe diga, é uma cena marada e picante, e andam as pessoas assustadas com a inteligência artificial, ah e tal nunca sabemos o que é verdade ou mentira, pois não, é de estar com pé atrás, e sorriso no rosto, e tento não arregalar muito os olhos (coisa que me é difícil de fazer), assim sou eu quando encontro na rua pessoas conhecidas que já não vejo há muito tempo, mas que também somos amigas no "face", fico quase sempre na dúvida: então mas a pele dela não é mais clara, ou mais escura consoante o caso (?), hummm afinal aquilo são pestanas postiças, olha a papada afinal existe...e tem rugas (!), que coisa mais estranha, como se vive assim, são necessários dois cérebros para actuarem dentro e fora do ecrã, quais divas esquizofrénicas. 

2º - Não compreendo as mães, vou falar só das mulheres, que gostam de competir com as filhas, parece-me estúpido, parece-me repugnante que se exibam com o intuito de que lhes digam que parecem irmãs. Que coisa mais parva eu querer ser irmã da minha filha, neste amor não cabe este tipo de competição sexual. Também não gosto da tal história, ahh e tal, a roupa de uma é a roupa da outra, não pode ser, uma peça ou outra sim, mais que isso não, sapatos muito menos, do que tenho visto deste tipo de atitude de uma mãe perante a filha, é sempre esta última a ser anulada, mas porque carga de água actuam deste modo? Mete-me nojo, e não uso em vão a palavra.

Conclusão: estou fora de moda (?!), estou a ficar velha (?!), mas o mais incrível é que estou a gostar, não compreendo quem não se olha ao espelho com olhos de ver.

Daqui até ao Natal -14

01
Set24

IMG_20240831_091439.jpgEnumerar ou colocar num pódio aquilo que nos faz falta, pode nos facilitar a vida.

Interessante que à medida que elegemos apenas o excelente, o bom e o suficiente tiramos peso ao dia a dia e tudo se transforma, conservar amizades ou amores de carvão que apenas nos vão sujar ou queimar, conforme a ocasião, manter ao nosso lado gente que não festeja as nossas conquistas e os nossos esforços é como conservar roupa inútil num roupeiro apenas porque não sabemos o que fazer com ela. 

O pior das decisões é que elas envolvem muita dor. Assim, também, é o esforço imposto ao corpo numa corrida, no entanto, quando se corta a meta tudo se transforma, as emoções ao rubro percorrem o nosso corpo envolvendo todos os pedaços dos nossos músculos, foi preciso uma camaradagem conjunta de todos eles para o passo derradeiro, aquele que parece importar mais, que é a ultrapassagem da meta com sucesso, todo o peso ficou para lá do tempo, uma enorme reflexão através da respiração, sozinho acompanhado de si mesmo, assim é o atleta que procura e acha em si mesmo a força, é na ultrapassagem desse cansaço que a janela da alegria se abre. 

 

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