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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Daqui até ao Natal -1

19
Ago24

Daqui até ao Natal não sei quantos dias são, o tempo a longo prazo tornou-se pouco importante, sendo o tempo uma coisa vaga que se agiganta - naquilo que for - quando menos gostamos, e diminui na proporção da sua importância motivadora e inspiradora, quer em termos intelectuais ou emocionais. O tempo como aquele pedacinho de um instante, como cometa de mil cores que parece passar suave perante a nossa admiração, num fascínio milenar,  maravilhosamente encantador, que deixa cá dentro deste corpo terreno a imensidão do cosmos, tal como uma música que trespassa a pele e se incorpora na mais ínfima das células, para depois explodir como se fosse um bola de sabão, deixando salpicos finos como prova da sua brevíssima existência.

O tempo marca a existência deste blog há mais de quatorze anos, digitalmente um tempo longo, na realidade apenas um piscar de olhos, foram tantos os dias, numa velocidade furiosa e incontrolável a ampulheta da vida não pára, parecendo maior o espaço vazio e mais cheio aquilo que já foi, no entanto, o que resta assume uma importância maior, como num final de fogo de artifício, depois o silêncio, ou o vazio do som das cores e das luzes, vamo-nos então suavemente, tal como rastos de estrelas visiveis numa noite de Verão. 

 

Há dez anos neste blog, registei a velocidade, e o Poeta Zarolho comentou dizendo: Velocidade da luz apenas alcançável por mentes brilhantes, como Einstein. Interessante a velocidade e o tempo caminham lado a lado. Fui então visitar o blog do Poeta Zarolho, e vi que o tempo parou por lá desde 2021, fico a pensar no que se passou desde então, e não sei nada, porque de repente somos e depois já não somos. 

 

Estou aqui à beira mar

Estou aqui à beira mim

Nesta arte de abeirar

Sigo apenas porque sim

 

Sinto as brisas falar

Sei porque falam assim

Limito-me a escutar

Desconto o que é ruim

 

Sou aquilo que sonhei

E mesmo nada sabendo

No dia em que acordei

 

Logo fui percebendo

Que sabendo, nada sei

Que sem ser, lá fui sendo.

 

Poema retirado do Blog Poeta Zarolho

Mulheres

mas que raio é "vantagem biológica"?

08
Ago24

 

Imane.webpImane Khelif, fotografia Richard Pelham/Getty Images 

Sinto que o mundo está a ficar perigosamente estúpido, se antes o boato era algo que se resumia à vizinha mais bisbilhoteira, agora é rastilho de rápida propagação global. Mas que raio é isso de vantagem biológica? E então, também há orientações cientificas para o tamanho de um pé, ou para o cumprimento de um braço, para que um nadador possa competir(?), quem for pezudo e braçudo tem vantagem biológica(?) sobre um que tenha pé de cinderela?

"Na passada quinta-feira, nos Jogos Olímpicos, a pugilista italiana Angela Carini combateu com a argelina Imane Khelif. Após 46 segundos, o combate terminou. Carini rompeu em lágrimas dizendo que “não era justo”. Em pouco tempo, por toda a internet, espalhou-se o rumor de que Khelif era uma mulher trans. Os emissores destes boatos não se cingiram ao público genérico, mas também incluíram partilhas e comentários de personalidades com grandes plataformas, como Donald Trump, Elon Musk e J.K. Rowling. No nosso país, Rita Matias, deputada do Chega, também propagou esta informação falsa. O envolvimento destas pessoas não admira ninguém, só corrobora o preconceito que já sabíamos que existia. No entanto, estas partilhas atacaram diretamente alguém, pondo o seu profissionalismo e identidade de género em causa. Até porque, comprovadamente, Imane Khelif é uma mulher cisgénero, que nasceu com vulva e órgãos reprodutores femininos e identifica-se como mulher (como se pode confirmar no artigo do Polígrafo e no artigo da Tribuna Expresso)." 

Texto Retirado de Expresso 

Imane-Khelif.webp 

Imagem retirada daqui.

 

Micro Conto 

A lágrima da crocodila 

O combate começou, diz Imane Khelif a Angela Carini, querida vou dar-te um murro, posso? Sim faz favor, mas não me acertes com força, não te esqueças que somos mulheres. 

 

 

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