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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Votos para 2024

31
Dez23

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É chegada a hora de momentos de reflexão e dos votos para o ano novo que se aproxima a galope, com ele vem o futuro, mas do futuro nada existe, nem mesmo a certeza que vá acontecer, embrulhado mesmo só o presente, para desfrutar na hora, no abraço, no amor da partilha, no aconchego de um  olhar.

Erguei as taças, mas tomai vinho ou outro do qual gostes, daquele que te sabe bem, que te dê alento, não castigais o palato e o vosso estômago com passas e vinhos amargos só porque é tradição, libertai-vos daquilo que vos mói. Saúde, Paz e Liberdade! Que o ano de 2024 seja repleto disto. Obrigada por estarem aí. 

 

Livre

 

“Não há machado que corte
a raíz ao pensamento:
não há morte para o vento,
não há morte.

Se ao morrer o coração
morresse a luz que lhe é querida,
sem razão seria a vida
sem razão.

Nada apaga a luz que vive
num amor num pensamento,
porque é livre como o vento
porque é livre”.

Poema Carlos  de Oliveira

Pela poesia se vai até à verdade

07
Dez23
 
 
Hoje, cá dentro, houve festa...

Alcatifei-me de veludo azul,
fiz pintar a Ternura os meus salões,
e pus cortinas de tule...

 

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Mas não chamei grandes orquestras
nem um clarim, a proclamá-la:
mandei tocar, em mim,
uma música assim de procissão
que levou os meus sentidos
a nem sequer se sentirem, de embevecidos...

 

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Hoje, cá dentro, houve festa...
E, se houve festa e veludos,
e musica azul, e tudo
quanto digo,
foi somente porque a Graça
desceu hoje a visitar-me. 

 

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E eu, que vivo de Infinito
as raras vezes que vivo;
eu, que me sinto cativo
no pouco espaço que habito,
onde a presença de dois,
por ser demais, me embaraça,
deixei logo o meu lugar,
para dar lugar à Graça.

 

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Não tinha pés: tinha passos;
não tinha boca: era beijos;
não tinha voz: era como
se o folhado e a maresia
se tivessem combinado
pra cantar «Ave, Maria...»

 

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Foi então que vivi; então que vi
os poucos metros que vão
da minha Serra às Estrelas:
é que eu, sendo tão pequeno
que nem às vezes me encontro,
andava ali a pairar,
e o meu fim estava nelas
e o meu princípio no Mar.

 

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A Graça, cá dentro, era

a varinha de condão
que me guiava no Ar.
E que bem me conduzia!
Parecia que eu sentia
as mesmas ânsias e a alegria
da Noite quando, no ventre,
já sente os gritos do Dia.

 

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O poema é de Sebastião da Gama, o poeta da Serra da Arrábida, as fotografias foram tiradas por mim ontem na Serra.