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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Peneireiro-de-dorso-malhado

peregrino

19
Jun23

IMG_20230616_201015.jpgLembram-se de vos ter falado que tenho um ninho de falcões defronte da minha janela? Pois, este menino, ou menina, no outro dia caiu do ninho sem ainda saber voar, o meu marido apanhou-o e trouxe-o para casa até o devolvermos ao ninho. Resumindo, já se encontra entre os irmãos, só não sei é por quanto tempo, pois o seu crescimento é rápido, daqui a nada desaparecem nas asas do vento ou com o vento nas asas, na sua peregrinação infinita, que me dera saber para onde vão. 

 

Estima-se que esta espécie exista desde o Pleistocénico Superior (desde há 36.000 anos).

 

Museu Virtual Biodiversidade

Para saber mais, clique na imagem acima.

Expresso

de Setúbal até Trróia

13
Jun23

david dores.jpg 

Fotografia David Dores 

Estava eu a percorrer a internet, quando me deparei com esta fotografia do David Dores, a fotografia diz respeito ao ferryboat Expresso que atravessava o Sado de Setúbal até Troia, foram tantas as vezes que naveguei nele directa a longos dias de praia e namoro, durante quase toda a travessia éramos brindados com roazes que acompanhavam o barco, uma feliz normalidade para a época (que nunca pensei deixar de existir), os mais velhos viajavam com as crianças na zona mais abrigada localizada onde se vêem as janelas, os mais afoitos iam lá bem no alto, quase ao leme, o barco carregado à pinha, de gente e de carros, era chegar e largar, o homem do leme manobrava com mestria, na chegada ao batelão, os homens lançavam os cabos para atracar o barco, só depois descia a pesada chapa que servia de rampa de entrada e saída. Pelo meio da viagem tínhamos deitado ao rio as carcaças que não tínhamos comido durante o dia, as gaivotas sempre atentas comiam-nas ainda no ar, confesso que levava sempre pão a mais, e mesmo que não levasse deixava sempre alguma só para me deleitar com o espectáculo das gaivotas acompanhando o barco - tendo como pano de fundo a água azul do Sado, a Serra da Arrábida fundindo-se com o pôr do Sol e o despertar das luzes da cidade de Setúbal.

 

Sobre o fotógrafo David Dores (retirado do jornal O Setubalense, 11/02/2020):

David nunca deixou que o diagnóstico de epilepsia e as terapêuticas pelas quais passou na infância e adolescência limitassem o seu caminho. “No papel está 66% de incapacidade. Deficiência Mental. Confesso. Detesto essas palavras. Eu não sou ‘uma deficiência’ sou o David”, defende assumindo que muitas vezes luta para não se revoltar com “a etiqueta”, que tantas vezes lhe limitou o caminho.

Para saberem mais visitem a página https://www.daviddoresphotography.com/ 

 

Estrada de mar

12
Jun23

IMG_20230610_091024.jpgEu quando estou olhando para esta paisagem não vejo apenas a outra margem, o rio, a barra, a serra e o oceano, vejo um caminho de gentes do mar, de gente que vai e que vem, de gente que foi e já não veio, de gente que foi em vão, de gente que sofreu e aguentou porque tem de ser, de gente que que me corre nas veias.

 

(...) Os homens da beira do cais só têm uma estrada na sua vida: a estrada do mar. Por ela entram, que seu destino é esse. O mar é dono de todos eles. Do mar vem toda a alegria e toda a tristeza porque o mar é mistério que nem os marinheiros mais velhos entendem, que nem entendem aqueles antigos mestres de saveiro que não viajam mais, e, apenas, remendam velas e contam histórias. Quem já decifrou o mistério do mar? Do mar vem a música, vem o amor e vem a morte. E não é sobre o mar que a Lua é bela? O mar é instável. Como ele é a vida dos homens dos saveiros. Qual deles já teve um fim de vida igual ao dos homens da terra que acarinham netos e reúnem as famílias nos almoços e jantares? Nenhum deles anda com esse passo firme dos homens de terra. Cada qual tem alguma coisa no fundo do mar: um filho, um irmão, um braço, um saveiro que virou, lima vela que o vento da tempestade despedaçou. Mas também qual deles não sabe cantar essas canções de amor nas noites do cais? Qual deles não sabe amar com violência e doçura? Porque toda a vez que cantam e que amam, bem pode ser a última. Quando se despedem das mulheres não dão rápidos beijos, como os homens da terra que vão para os seus negócios. Dão adeuses longos, mãos que acenam, como que ainda chamando.
 
Jorge Amado, in Mar Morto