Dia Internacional da Eliminação da Violência Contra a Mulher
Ilustração Henrik Aa. Uldalen
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Ilustração Henrik Aa. Uldalen
Nos últimos dias temos assistido pela televisão ao falatório sobre aquilo que são os direitos humanos, as explicações resumem-se a breves minutos onde se fala sobre o Mundial de Futebol realizado no Catar, fala-se à boca pequena na morte de milhares de homens por acidentes de trabalho durante a construção dos estádios de futebol, fala-se timidamente na escravidão que é imposta aos trabalhadores domésticos (sem horários nem pausas), tudo isto é intercalado com imagens do luxo existente em vários locais, com a beleza exuberante dos arranha céus e das largas avenidas que deixam antever o Deserto. Entretanto, passamos para a realidade portuguesa onde o assunto tem sido relatado nalgumas plantações agrícolas existentes no Alentejo, os trabalhadores são na sua maioria homens oriundos de países asiáticos, curiosamente o mesmo tipo de trabalhadores que são referidos no Catar, aqui já temos um factor comum de onde vem a mão de obra mais barata actualmente.
Vê-se em imagens televisivas que reportam à pacatez do Alentejo as casas para acolherem estes emigrantes, é referido que são alugadas à parcela, por cama, em cada quarto chegam a estar mais de cinco homens vindos não se sabe bem de onde, sabe-se no entanto que nos seus países foram recrutados para realizarem trabalhos na agricultura, assim e não sendo necessário experiência ou conhecimento da língua materna é relativamente fácil conseguir-se um emprego aqui, no entanto também se sabe que esses trabalhadores são vitimas de máfias que os recrutam no país de origem e lhes facultam alojamento, assim sem rede de apoio, num país estrangeiro, sem recursos financeiros, sem conhecerem a língua são trabalhadores apetecíveis tanto para os recrutadores como para os empregadores que visam o lucro fácil.
A bandeira do trabalho digno? Talvez devesse ser hasteada em empresas que o praticam.
Pergunto-me, qual a diferença entre uns e outros? Será o país que os acolhe?
Pergunto-me ainda, quem se interessa pelo mar de plástico criado pelas plantações cultivadas em estufa? onde metros e metros quadrados de ecossistemas existentes foram arrasados, tendo em conta a economia local e a criação de emprego, mas e quando este emprego criado não é contratado de forma digna, não interessa? Olha-se para o lado e continua-se? E a destruição dos habitats em zonas de Parque Natural? Não é uma violação do direito ambiental e animal, e biodiversidade na sua vasta dimensão, indo contra natura às gerações futuras. E os furos de água? A água não é um bem escasso que deveria ser gerido em prol de todos, e não apenas de alguns? E o abate de carvalhos e pinheiros mansos centenários, ali para as bandas de Grândola, para a criação de pomares de tangerinas que serão vendidas em Espanha? Aliás o que se passa ali para a zona de Troia e Comporta não diz respeito a ninguém, construções em cima de dunas supostamente protegidas, com fauna e flora sensível à intensificação humana. E ainda, à criação de um recife, em zona de pesca do cerco, são tantos atropelos, que é-me impossível enumera-los a todos, mas é como diz o outro "isso agora não interessa nada".
Para que temos um Ministério do Ambiente?
Missão:
A Secretaria-Geral do Ambiente (SGAmbiente) é um serviço central da administração direta do Estado, dotado de autonomia administrativa.
A SGAmbiente tem por missão garantir o apoio à formulação de políticas, ao planeamento estratégico e operacional, à atuação do Governo daárea do Ambiente e Ação Climática no âmbito internacional, à aplicação do direito europeu e à elaboração do orçamento, assegurar a gestão de programas de financiamento internacional e europeu a cargo do Ambiente e Ação Climática, bem como assegurar o apoio técnico e administrativo aos gabinetes dos membros do Governo integrados na área governativa Ambiente e Ação Climática e aos demais órgãos e serviços nela integrados, nos domínios da gestão de recursos internos, do apoio técnico-jurídico e contencioso, da documentação e informação e da comunicação e relações públicas.
Visão:
"Ser uma referência na Administração Pública portuguesa, no suporte às políticas, na representação internacional e na partilha de serviços."
Pergunto-me, quais os direitos humanos dos meus filhos e dos filhos deles neste país ? País onde se vendem casas a preços exorbitantes e se fazem propostas de redução de impostos a estrangeiros. País onde se abatem - em nome do progresso e dinheiro - árvores e ecossistemas para dar lugar à crescente plantação de centrais fotovoltaicas, como se não houvessem telhados suficientes para a colocação dos painéis - chama-se a isto energia verde. Sinto-os escorraçados nos seus direitos consagrados na nossa Constituição, sinto que os velhos já não se importam e os novos não querem saber.
Há muito tempo que não aprecio esta paisagem com o sentimento de tranquilidade em mim, é-me impossível esquecer a actualidade, a guerra na Ucrânia, uma mortandade pavorosa que cresce a cada dia, o frio gélido que se aproxima a passos galopantes, tanto sofrimento em causa da Liberdade. Foi sempre assim, a necessidade de sofrimento para uma qualquer libertação, até as histórias de amor são verdadeiras odes ao sofrimento, como se não houvesse amores felizes. Nada disto é tranquilo. Dificilmente vamos passar deste patamar. Escorrem as regras, através das garras que mais fincam, sejam elas do poder, do dinheiro, da ignorância, não importa onde, não importa quem, vão-se aos poucos os que guardavam as memórias de um mundo real - como quem guarda tesouros para repartir - daqui a nada pouco será contado, as vozes calam-se à medida em que se sentem ser inúteis, diria até, ridículas. Todos os dias morremos um pouco, menos válidos que antes.
Ilustração Alexander Sviridov