Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

O factor sorte

30
Nov22

mão.jpg Ilustração Cecile Davidovici

Lembro-me de ter lido algures sobre o que disse Eunice Muñoz sobre o sucesso que se tem na vida, falou ela que o factor sorte não é tido  muito em conta no sucesso de cada um, mas que é aí que começa a diferença, no entanto quando  alguém escreve uma biografia de uma pessoa de sucesso fala genericamente em que houve muito trabalho, resiliência de entre outros factores, omitindo voluntariamente a sorte que se teve aqui e ali, assim a sorte não é tida em grande conta, no entanto o facto de termos a sorte de encontrarmos pessoas que nos ajudam em determinadas situações pode fazer uma grande diferença entre o sucesso e o insucesso. 

A sorte é assim como a esperança, é vã, ninguém sabe ao certo como se comporta nem para que serve. 

 

 

Mar e Sol

28
Nov22

alice-rudolf-frauen-srgb-19-960.jpg Ilustração Alice Rudolf

Há mulheres que são mar e sol, que se desfazem e refazem, como marés que vão e vêm. São sal que tempera o ânimo, são sol que ilumina o dia. E mesmo quando a sua energia se esgota e o seu corpo é forçado a ir, elas ainda ficam, dando tempo à saudade, nos espaços por onde andaram, nas pessoas que conheceram, nas lições que ensinaram. E fica a ideia, tal como quando encostamos um búzio ao ouvido na esperança de escutarmos o mar, fica a ideia de que às vezes se estivermos atentos ainda podemos ouvir um último riso que ficou por viver.

Envelhecer

27
Nov22

floral4.png

 

  Ilustração Nelly Tsenova

Sinto que à medida que envelheço tenho cada vez mais necessidade de mudar, e quanto mais mudo, mais encontro razões para o fazer aqui e ali. Talvez seja pela visão de que agora o tempo urge, que é preciso descartar sentimentos e atitudes inúteis, existe agora em mim a vontade de querer escolher, coisa que sempre fui deixando para depois, torna-se agora claro que o depois encurtou, e em algumas decisões até deixou de poder existir. Não sei bem colocar em palavras, esta ânsia de querer existir, não é saudade, nem remorso, nem coisa a remoer que compare onde estou e onde poderia estar, é uma sensação mais terrena, como a sensação de viajar e voltar diferente, e querer ir outra vez, e mais outra, e a cada viajem uma transformação até ver onde é possível chegar. Como quem está esculpindo num corpo cada sensação que traz a mudança.

Virgolinho o ET cientista social

Capitulo II

26
Nov22

caracol.jpg Fotografia Katarzyna Załużna

Virgolinho desviou o olhar daquela imagem fantástica, conhecia a maciez das penas dos pássaros, de onde vinha as aves eram adoradas como símbolos de liberdade e de sonho, pois tinham o poder mágico de atravessarem os buracos negros entre universos e transformarem as cores das suas penas através da energia quântica, de uma só vez mudavam de tamanho e de cor, era quase impossível haver uma catalogação de cada espécie, visto andarem em constante mutação. Era estranho estar a comparar os dois mundos, principalmente porque os que viviam ali em baixo tinham a noção de viverem sozinhos no vasto universo. Ligou o comando principal da nave, este podia ser comparado a um grande computador terrestre, era dali que retirava a informação que necessitava para se manter actualizado sobre cada mundo que visitava. Naquele comando era possível fazer qualquer tipo de pesquisa, o cruzamento de dados que ali tinha sido introduzido permitia a Virgolinho conhecer e ter a noção aproximada de como os terrestres se comunicavam através da escrita. Verificou que havia agora um outro mundo paralelo à realidade, a que os terrestres chamavam de redes sociais, Virgolinho ligou-se às redes e começou a ler o que eles chamavam de comentários, depreendia que aquilo seria uma forma de expressão, no entanto o que o surpreendeu é que havia  nesses ditos comentários uma forma de agressão verbal jamais expressada com essa dimensão no chamado mundo real, ficou também curioso em perceber o porquê  desse tipo de comportamento ser aceite em sociedade como liberdade de expressão. Anotou alguns desses comentários como fonte de pesquisa, mais tarde iria tratar de documentá-los, depois pensou que teria de reformular toda a sua pesquisa já antes feita na Terra. 

 

VER CAPITULO ANTERIOR:

Capitulo I

Pág. 1/5