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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

À beira do Oceano Atlântico

Uma opinião escrita na praia, tem o mesmo sentido critico daquela que foi escrita numa secretária? S

28
Jun22

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Não é difícil sentirmo-nos pequeninos defronte da beleza selvagem da Natureza. 

Todos deveríamos poder usufruir deste mundo com a mesma intensidade com que corremos até ao óvulo, nesses minutos desenfreados na busca  da vida. Logo aí somos confrontados pela primeira vez com o nosso diminuto tamanho, estamos sempre uns números abaixo da coragem, da esperança, do crer e do poder.

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Milhões  de bagos de areia reflectem a luminosidade do sol, e a idade da Terra, aguentam as intempéries, moldam-se debaixo dos pés, juntam-se e separam-se com imensa facilidade, desfazem-se numa palma de mão aberta, servem para contar o tempo. Abarcam as raízes mais resilientes que dão vida às dunas. 

 IMG_20220618_114250.jpgNum processo cíclico, de sol a sol, de lua a lua, fragmentos de conchas são batidos onda a onda até se transformarem neste dourado quente e macio. Que nunca nos acabe a memória, que nunca nos acabe o som incessante do mar. Qual líquido uterino, que acolhe e alimenta.

IMG_20220618_114236.jpgEstamos em junho, de um ano muito sofrido, pergunto-me, então qual é a margem mais importante deste mar (?), como se houvesse um lado com maior importância, talvez por isso os planetas sejam redondos como forma de equidade. 

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O resto? O resto é para pensar, e escrever o que ficou por dizer, porque mais não me pertencerá opinar, quer sobre a seca extrema que assola Portugal, nem sobre os campos de golfe situados mais a sul destas dunas - consumidores compulsivos da nossa água potável- que ao que parece ainda é um bem comum no nosso país,  nem sobre o cultivo de relvados para campos de futebol que bebem milhares de litradas de água doce que existe no subsolo. Tudo isto aqui tão perto do paraíso, mais a construção - autorizadíssima - e desenfreadas de resorts e casas de luxo. E vivam as dunas! Vivam enquanto durarem, tal como o amor, é eterno enquanto existe.

 

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Como se fazem milagres num areal?

21
Jun22

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“A consciência de uma planta no meio do inverno não está voltada para o verão que passou, mas para a primavera que irá chegar. A planta não pensa nos dias que já foram, mas nos que virão. Se as plantas estão certas de que a primavera virá, por que nós – os humanos – não acreditamos que um dia seremos capazes de atingir tudo o que queríamos?”
 
Khalil Gibran

Pessoas que matam peixes através da mente

19
Jun22

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Há anos que tenho um aquário com peixes de água quente, já perdi a conta aos peixes que já tive, este é o meu limpa fundos actual, mas já tive outro que durou muitos anos, penso que morreu de velhice, morreu em cima da pedra, não ficou a boiar, nem deteriorado, nem os outros peixes o comeram, simplesmente ficou ali imóvel, há espera que déssemos por isso. Quem tem ou já teve um aquário sabe que a longevidade  dos peixes é baixa, talvez cerca de dois anos em média, uns duram mais que outros, tal como nós, no entanto este meu limpa fundos ultrapassou em muito esse número.

Como disse tenho um aquário há muitos anos, e durante uns anos de tempos a tempos tínhamos a visita cá em casa de um casal amigo, eles ficavam sempre fascinados com o aquário, adoravam ver os peixes coloridos, as plantas verdes, as bolhas, de cada vez que ali vinham passavam um bom bocado de volta do aquário.

 Mas dessas visitas, guardo especialmente os dias seguintes, havia então uma elevada mortalidade entre os peixes, aparentemente sem nenhuma razão começavam a morrer, comecei a reparar nisso por acaso, na primeira vez pensei que fosse doença, depois com o tempo comecei a associar as mortes àquelas visitas, a seguir verifiquei que tinha razão, comecei a observar em pormenor o que acontecia nos dias seguintes, e vi que os peixes morriam simplesmente sem estarem doentes, nunca encontrei explicação para tal facto, o que sei é que passados estes anos todos ainda me interrogo sobre aquilo que acontecia ali. Uma coisa é certa, depois desse casal deixar de frequentar a minha casa, a mortalidade baixou drasticamente. 

Desses tempos apenas o limpa fundos resistiu, a resiliência que havia nele e o seu cuidado em limpar cada pedra, cada folha de uma planta, cada pedaço do vidro, levam-me a lembrá-lo com carinho, tendo em conta as inúmeras vezes que o observei e que ele me observou leva-me a crer que fomos compinchas. Senti a sua falta quando morreu, os amigos não precisam falar, nem ser da mesma espécie. Há uma energia que não se explica, apenas se sente, tal como aqueles peixes em dia de visitas especiais.

 

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