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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Folha🍁

🍁

29
Set21

rafal-olbinski.jpg

Ilustração Rafal Olbinski

 

🍁
Perdoa-me, folha seca,
não posso cuidar de ti.
Vim para amar neste mundo,
e até do amor me perdi.
🍁
De que serviu tecer flores
pelas areias do chão
se havia gente dormindo
sobre o próprio coração?
🍁
E não pude levantá-la!
Choro pelo que não fiz.
E pela minha fraqueza
é que sou triste e infeliz.
🍁
Perdoa-me, folha seca!
Meus olhos sem força estão
velando e rogando aqueles
que não se levantarão...
🍁
Tu és folha de outono
voante pelo jardim.
Deixo-te a minha saudade
- a melhor parte de mim.
🍁
E vou por este caminho,
certa de que tudo é vão.
Que tudo é menos que o vento,
menos que as folhas do chão...
 
 
Poema de Cecília Meireles

Debaixo do sol

28
Set21

IMG_20210926_094703.jpg

 

Tenho em  mim o cheiro dos dias de nevoeiro na praia, do cheiro da areia molhada, da maresia escondida. Recordo que quando o sol ultrapassa a nebulosidade, e os seus raios se encontram com a areia, o cheiro intensifica-se até o calor se instalar por completo, depois acabou, começa então o sabor a sal no ar. Os olhos habituam-se ao intenso clarear, à descoberta daquilo que havia estado escondido. No  bote o homem sabe ao que vai, regressa da calada da noite, trazendo a madrugada consigo, fumando um último cigarro, aproveitando a solidão que lhe resta,  pelo ar ecoam as sirenes dos navios a entrar e a sair da barra.  

 

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Sabores nossos

24
Set21

alho louro e azeite.jpg

Ilustração Ada Florek

 

Pega-se em metade do Oceano
e juntam-se-lhe terras desconhecidas.
Deixa-se marinar alguns anos
e tapa-se com um manto de neblina.
Lavam-se as saudades em lágrimas
e põe-se a glória em banho Maria,
para voltar a usar um dia.
À parte coloca-se o fado bem apurado,
o futebol bem jogado, e um ou outro pregão
das entranhas gritado.
Desfaz-se a língua em poemas,
odes e cantigas
ou então canta-se à desgarrada.
Rima improvisada.
Numa grande forma de barro
escalda-se o Algarve e o Alentejo,
salgam-se as Beiras e desfaz-se em água
o Douro e o Ribatejo.
Para terminar abanam-se as Oliveiras
com sabedoria ancestral.
Rega-se tudo com um fio dourado.
E serve-se assim Portugal,
como prato principal.

Poema "Receita" Azeite Gallo

 

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