We are the world
Boa semana!
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Boa semana!
O mar beijando a areia
O céu e a lua cheia
Que cai no mar
Que abraça a areia
Que mostra o céu
E a lua cheia
Que prateia os cabelos do meu bem
Que olha o mar beijando a areia
E uma estrelinha solta no céu
Que cai no mar
Que abraça a areia
Que mostra o céu e a lua cheia
um beijo meu
Poema de Sophia de Mello Breyner Andresen
Para ouvir:
Fotografia © Boushra Almutawakel
Hoje é dia mundial da fotografia.
Eu não me interessa que haja mais moderação sobre o que é ou não é o Direito das mulheres. O que me interessa são os Direitos das mulheres por inteiro. Porque já chega de sermos tratadas como seres de segunda. Não é uma questão de feminismo, ou de outro qualquer rótulo que lhe queiram chamar. É sobretudo uma questão de justiça.
Apesar de sermos geradoras de vida, e portanto também propagadoras da espécie, temos sido ao longo dos tempos relegadas para segundo plano, muitas vezes pelas razões mais estapafúrdias, hoje vemos pelas imagens que nos chegam através de vários meios de comunicação social a selvajaria do que é viver como mulher em determinadas sociedades, quer por crenças religiosas, de poder, ou de pura ignorância. E o mundo assiste ano após ano impávido e sereno, um mundo com muitos homens no poder, sem projectos que levem ao fim destas atrocidades, sem diplomacia nesse sentido, sabendo porém que nascer-se mulher é meio caminho para uma vida de pobreza, violência e injustiça social.
Estou, nesta noite cálida, deliciadamente estendido sobre a relva,
de olhos postos no céu, e reparo, com alegria,
que as dimensões do infinito não me perturbam.
(O infinito!
Essa incomensurável distância de meio metro
que vai desde o meu cérebro aos dedos com que escrevo!)
O que me perturba é que o todo possa caber na parte,
que o tridimensional caiba no dimensional, e não o esgote.
O que me perturba é que tudo caiba dentro de mim,
de mim, pobre de mim, que sou parte do todo.
E em mim continuaria a caber se me cortassem braços e pernas
porque eu não sou braço nem sou perna.
Se eu tivesse a memória das pedras
que logo entram em queda assim que se largam no espaço
sem que nunca nenhuma se tivesse esquecido de cair;
se eu tivesse a memória da luz
que mal começa, na sua origem, logo se propaga,
sem que nenhuma se esquecesse de propagar;
os meus olhos reviveriam os dinossáurios que caminharam sobre a Terra,
os meus ouvidos lembrar-se-iam dos rugidos dos oceanos que engoliram
continentes,
a minha pele lembrar-se-ia da temperatura das geleiras que galgaram sobre a
Terra.
Mas não esqueci tudo.
Guardei a memória da treva, do medo espavorido
do homem da caverna
que me fazia gritar quando era menino e me apagavam a luz;
guardei a memória da fome;
da fome de todos os bichos de todas as eras,
que me fez estender os lábios sôfregos para mamar quando cheguei ao mundo;
guardei a memória do amor,
dessa segunda fome de todos os bichos de todas as eras,
que me fez desejar a mulher do próximo e do distante;
guardei a memória do infinito,
daquele tempo sem tempo, origem de todos os tempos,
em que assisti, disperso, fragmentado, pulverizado,
à formação do Universo.
Tudo se passou defronte de partes de mim.
E aqui estou eu feito carne para o demonstrar,
porque os átomos da minha carne não foram fabricados de propósito para mim.
Já cá estavam.
Estão.
E estarão.
Poema de António Gedeão