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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Dia Mundial "Meio" Ambiente

ao meio

05
Jun21

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Aqui na bola azul, as questões ambientais são na maior parte das vezes levadas a meio, no meio e pelo meio. Neste dias comemorativos exige fazermos uma reflexão sobre o nosso meio. Há demasiado tempo que estas questões passam ao lado das agências noticiosas, do poder local, e nas andanças políticas globais. No quotidiano apresenta-se como assunto de menor importância, sendo até que os activistas ambientais são por vezes ostracizados publicamente, sem que isso tenha qualquer relevância. 

Pelo nosso país, apregoam-se e crescem as plantações fotovoltaicas, derrubam-se árvores de grande porte, incentiva-se monetariamente o cultivo intensivo e o monocultivo, dando azo a uma grande perda de biodiversidade, alisam-se os terrenos a bel-prazer para a preparação de tais culturas arrasando com ribeiras, charcos, sapais e toda a vida envolvente em tais ecossistemas, em nome de uma suposta economia e progresso. Nas cidades, diminuem-se os jardins, os bosques são reduzidos a rotundas e a estacionamentos estéreis de alcatrão, as podas de rolão são agora uma moda permanente, assim como o consequente abate de árvores e depois a continua plantação de outras para futuro comprovativo de obra feita e representatividade no orçamento gasto, vai daí mais umas fotografias para a posteridade. 

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A meio, e pelo meio nos vamos ficando, meio calados, meio confusos, meio esclarecidos, meio empobrecidos.  

 

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Mentira

03
Jun21

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Ilustração  Narjes Mohammadi

Não lido nada bem com a mentira, e o que mais se vê e se ouve neste nosso quotidiano são mentiras, mente-se  à descarada e com um à vontade perante os outros como se fosse um bom exemplo. No entanto, sendo a mentira coisa de pouca dura são exemplos vagos que nos indicam que estamos a ir num caminho sem saída. Tal como na perda de confiança há a sensação que algo foi quebrado e jamais será reposto. Ora uma sociedade que se está a afundar em mentiras  aonde nos levará? Que futuro desejamos? 

Desejamos assim tanto o sucesso a todo o custo que nada mais interessa? A nossa incapacidade cada vez mais crescente em discernir a verdade da mentira está a levar-nos a uma vida salobra.  

Ao abandono ou a caminho da Liberdade?

02
Jun21

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Não tenho pressa: não a têm o sol e a lua.

Ninguém anda mais depressa do que as pernas que tem.

Se onde quero estar é longe, não estou lá num momento.

 

Sim: existo dentro do meu corpo.

Não trago o sol nem a lua na algibeira.

Não quero conquistar mundos porque dormi mal,

Nem almoçar o mundo por causa do estômago.

Indiferente?

Não: filho da terra, que se der um salto, está em falso,

Um momento no ar que não é para nós,

E só contente quando os pés lhe batem outra vez na terra,

Traz! na realidade que não falta!

 

Não tenho pressa. Pressa de quê?

Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.

Ter pressa é crer que a gente passe adiante das pernas,

Ou que, dando um pulo, salte por cima da sombra.

Não; não tenho pressa.

Se estendo o braço, chego exactamente aonde o meu braço chega -

Nem um centímetro mais longe.

Toco só aonde toco, não aonde penso.

Só me posso sentar aonde estou.

E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras,

Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,

E somos vadios do nosso corpo.

E estamos sempre fora dele porque estamos aqui.

 



Alberto Caeiro

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