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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Um templo a céu aberto

25
Jun21

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Ilustração Tomasz Alen Kopera

Sempre me questionei se os pássaros cantavam para as árvores e se elas se deliciavam com o seu canto e se poderiam bater palmas ao sabor do vento, sem ninguém dar por isso. Tenho observado como os gaios confraternizam e se abrigam debaixo da folhagem verde e robusta da grande árvore existente defronte da minha janela. Ao final do dia, quando o sol se acalma e nos diz adeus as sombras da noite começam a invadir o horizonte, pelo meio do arvoredo da avenida aparecem as andorinhas treinando o seu voo vertiginoso em pares, fazendo inveja aos pilotos dos F16, em verdadeiras acrobacias sincronizadas ao centímetro.

Há cerca de dois anos cortaram todas as árvores de rolão, não havia vida nem harmonia naquele espaço, nem poiso, nem sombra, a paisagem era algo fantasmagórico, lembrando um cenário de apocalíptico. 

Penso em como a Natureza consegue ser tão generosa deixando-me  num estado de despertar constante, existe neste poder sereno a linguagem silenciosa de um mistério de milénios, são murmúrios de vento, braços de sol, frescura divina. Alimento encantado sem entrar no corpo. 

Custa-me saber que não viverei o tempo suficiente para que os meus braços não tenham a capacidade de conseguir alcançar o diâmetro do tronco da pequena árvore que plantaram há meses.

 

Azul cristal

24
Jun21

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Ilustração  Mariateresa Quercia

Ter alguém que nos escute e que oiça as nossas palavras é talvez o mais puro azul encontrado entre o ente e o ser, é algo tão cristalino que temos dificuldade em percebe-lo, e por vezes quando nos somos apresentados nem damos por isso tal é a transparência do encontro. 

 
Ouve-me: preciso de um amigo que abane o (meu) mundo.
Não sei se escutaste bem: tem de ter um coração de ave,
mas o seu grito contra o mal tem de ser forte como trovão.
Se eu cair, há-de levantar-me como se eu fosse pluma.
Soprará nas minhas feridas e a minha dor passará como nuvem.
Sempre quis um amigo assim.
Quando a solidão me fechava num quarto, ele abria janelas.
Se as lágrimas rolavam porque alguém partira, bebia-as como licor.
Sabia que voltava para o seu país quando há muito os meus olhos dormiam.
Disse-me num por do sol que chegaria um dia em que eu não daria pela sua
ausência.
Ficaria a vigiar-me do seu país e daria recomendações às estrelas, à lua e aos peixes.
Faltou uma manhã e não mais voltou.
 
 
 
Poema de Lília Tavares
 
 
 

Agapanto

23
Jun21

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Na linguagem das flores o agapanto significa flor do amor, pode o amor ser encontrado nas suas mais diversas manifestações, tal como a agapanto o amor floresce sempre majestoso, mesmo que seja rápido é inesquecível, mesmo que esteja longe permanece. Os inúmeros amores que podemos ter através dos amigos, da família, dos colegas e até de desconhecidos. 

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O amor não apenas como físico, mas espiritual, na confiança, na lealdade,  na fé, na paz, na sabedoria, na inteligência. O amor pela Natureza, pela cidade, pelo trabalho, pela liberdade, o amor naquilo que nos define, nos objectivos que escolhemos. O amor ridículo. O amor próprio. O amor de uma vida. 

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Deveria ser dado que morrêssemos
Com um amor ainda vivo em nós,
Como deveria ser dado a um pássaro
Morrer naturalmente em pleno voo.
 
Poema de Nuno Rocha Morais

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