Ilustração Maki Hasegawa
Estamos no tempo das nêsperas, enquanto os dias se alongam calmamente, as nêsperas são como pequenos sois que anunciam a chegada do Verão, com uns caroços que nos deixam as mãos pegajosas e o seu sumo é capaz de deixar nódoas na roupa dos mais incautos.
Na casa da minha avó havia uma nespereira que dava cachos de nêsperas doces, grandes e redondas, as melhores eram sempre as inalcançáveis à mão, os pássaros mais atrevidos deliciavam-se com elas. Quando o tempo começava a aquecer o meu avô pintava a parte de baixo do tronco com cal, dizia que assim os gatos não mijavam no tronco, nunca cheguei a saber se era realmente verdade. Achava bonito ver assim a árvore engalanada, era sinal que a época das assadas iria começar. Em dias de pescaria que se avizinhavam de pingo no pão, assávamos carapaus manteiga e sardinhas no quintal, comíamos então debaixo de um toldo feito com um cobertor azul claro já velho e fino que era pendurado por cima dos estendais da roupa, a velha mesa de madeira saía para o meio do quintal, os bancos altos de madeira eram os mais cobiçados. Num instante a pinha acendia o lume, nunca compreendi como a minha avó conseguia tal proeza, colocavam-se os pimentos a assar no lume forte, fazia-se entretanto a salada, as batatas já estavam cozidas, mas ainda aconchegadas no calor do tacho. O peixe ia para a grelha, mas antes uma cebola cortada às rodelas era colocada por cima do carvão em brasa, para evitar que se levantasse labaredas, ou em vez disso uma sardinha fazia o mesmo efeito. Fatias de pão grandes e gordas começavam a ficar ensopadas na gordura do peixe, para no fim colocarmos na grelha e comermos o pão torrado. Bebíamos sempre limonada fresca e com muito gelo, adoçada com açúcar amarelo, muito para ficar doce. Depois no final e para sobremesa nêsperas colhidas ao gosto do freguês.