Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

A arquitetura

02
Nov20

dentroefora.png

 

Ilustração Elia Barbieri

 

A arquitetura como construir portas,
de abrir; ou como construir o aberto;
construir, não como ilhar e prender,
nem construir como fechar secretos;
construir portas abertas, em portas;
casas exclusivamente portas e teto.
O arquiteto: o que abre para o homem
(tudo se sanearia desde casas abertas)
portas por-onde, jamais portas-contra;
por onde, livres: ar luz razão certa.

Até que, tantos livres o amedrontando,
renegou dar a viver no claro e aberto.
Onde vãos de abrir, ele foi amurando
opacos de fechar; onde vidro, concreto;
até refechar o homem: na capela útero,
com confortos de matriz, outra vez feto.

 

Poema de João Cabral  de Melo Neto

 

Como podemos arquitectar os nossos dias e as imensas horas vagas, destes tempos conturbados de novos medos e de ameaças invisíveis? Empilhamos na horizontal? Encafuamos numa cave? Fazemos uma ponte? Umas escadas? Um pátio?...

 

 

linha da frente

01
Nov20

outra.gif

Ilustração Amy Grimes

 

Nada podeis contra o amor,
Contra a cor da folhagem,
contra a carícia da espuma,
contra a luz, nada podeis.

Podeis dar-nos a morte,
a mais vil, isso podeis
- e é tão pouco!

 

Poema de Eugénio de Andrade

 

E de repente dás-te conta que estás na linha da frente, que não há mais ninguém antes de ti, isto se a fila for cronológica e sensata, sentes que já passaste por tanto, que te parece até mentira, no entanto a verdade assola-te nos dias cinzentos. Há em tudo um propósito desconhecido, que talvez venha a reunir a verdade e a razão. Nunca sabes, talvez desconfies. Sentes-te brutalmente usado em nome do sofrimento alheio, não alheio ao teu, mas ao outro que te desconhece. Aquele que se afigura novo, a ele, não a mim.  

 

 

Pág. 8/8