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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

31 de outubro de 2020

31
Out20

luacheia.jpg

 

Ilustração German Rubio Sierra

 

Não sei se a Lua se estará a rir de nós, dá-me a sensação de que sim. Talvez ela, lá de cima consiga alcançar muito mais do que nós aqui em baixo. Ou talvez a sua memória seja mais selectiva que a nossa e se lembre de que tudo não passa de ciclos. E quantos já vivemos e ultrapassamos? Será este agora uma situação nova? Ou estará a Lua cheia de razão? 

Sobre o espelho de água este brilho me acompanha, e me segue os passos à medida que me dirijo para ele, é uma estrada mágica e magnética que ultrapassa a matéria de que é feito o meu corpo. Tenho os pés molhados, afundados na maré vaza, é prateada a minha imagem, duma prata tridimensional, sem tacto, apenas visível àquele momento. Desfez-se e refez-se a cada passo, tenho de estar atenta, hipnotizada pela cor e pela imensidão do momento finito naquele cosmos onde vivo.

Sou bruxa, sou fada ou apenas mulher. Sou lua, sou prata, água e terra, ar e fogo.

 

"Irei beber a luz e o amanhecer"

28
Out20

luzes.jpg

Ilustração Olesya Serzhantova

 

 

Um dia quebrarei todas as pontes
Que ligam meu ser, vivo e total,
À agitação do mundo do irreal,
E calma subirei até às fontes.


Irei até às fontes onde mora
A plenitude, o límpido esplendor
Que me foi prometido em cada hora,
E na face incompleta do amor.


Irei beber a luz e o amanhecer,
Irei beber a voz dessa promessa
Que às vezes como um voo me atravessa,
E nela cumprirei todo o meu ser.

 

Poema de Sophia de Mello Breyner Andresen

 

 

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