À minha mesa - Quiche de delícias del mar
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Passavam pelo ar aves repentinas,
O cheiro da terra era fundo e amargo,
E ao longe as cavalgadas do mar largo
Sacudiam na areia as suas crinas.
Era o céu azul, o campo verde, a terra escura,
Era a carne das árvores elástica e dura,
Eram as gotas de sangue da resina
E as folhas em que a luz se descombina.
Eram os caminhos num ir lento,
Eram as mãos profundas do vento
Era o livre e luminoso chamamento
Da asa dos espaços fugitiva.
Eram os pinheirais onde o céu poisa,
Era o peso e era a cor de cada coisa,
A sua quietude, secretamente viva,
E a sua exalação afirmativa.
Era a verdade e a força do mar largo,
Cuja voz, quando se quebra, sobe,
Era o regresso sem fim e a claridade
Das praias onde a direito o vento corre.
Sophia de Mello Breyner Andresen, in Poesia(1944)
As ilustrações são de Virginie Cognet
Gostam da minha toalha? O vinho é da Casa Ermelinda Freitas, ali da zona caramela, nos arredores de Setúbal. Havia também umas favas com chouriço a acompanhar, também da zona caramela, mas esqueci-me de tirar uma fotografia, tudo porque os carapaus têm de se comer quentes. Os carapaus eram de Setúbal, terra de bom peixe e de boa gente. Obrigada à malta que lança as redes, e aos que o vendem. E aos que plantaram as favas e me ofereceram um molho de cheiros.