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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Simplicidade

21
Fev20

casaco.JPG

Ilustração Jungho Lee

 

 

alguém devia separar a inquietação do tempo
ouvir os cânticos não humanos da terra
serenata de peito aberto

aceito o abrandamento da respiração
e o vento protector engrandece a ideia de raiz

a simplicidade chama-se pedra-folhagem-animal e voa
a verdade tem nome de pássaro azul com alma

tu e eu em prece murmurada de escuta
tu e eu e as primeiras águas
tu e eu em construção
ainda que não haja tempo
para edificar a árvore do mundo

 

 

Poema Adília César

Onde fica a fissura?

20
Fev20

além.jpg

 

Fotografia Artur Pastor

 

 

 

Sempre vivemos para além
da memória
apesar do lapso apunhalando o tempo

Porque antes fomos
connosco noutra hora, e agora
voltamos quando já nos esquecemos

Onde fica a fissura, a brecha
por onde passámos
a chegarmos de novo ao nosso presente

Infringindo as regras das horas
improváveis
hoje igual a ontem, já inexistente

Partimos e tornamos na nossa
eternidade
assim a repeti-la num infindo repente

Perdidos um do outro sempre
a regressarmos, revertendo
a queda que nos ata e desprende

Onde está o estilete de cravar
no peito, onde está
o incêndio, onde está o veneno?

Tanta imprudência que jamais
revelamos, calando
um ao outro aquilo que queremos

Fugaz a madrugada volta a luzir
no espaço, entre o prazer
aceso e o lento segredo

Efémeros os sentimentos
que depois se refazem
como se dissolvem as paixões ardentes

Apesar das tormentas,
para sempre voamos
século após século no ressalto dos ventos

 

 

Poema Maria Teresa Horta