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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Bafio

12
Jan20

lambreta.jpg

 

Ilustração Anna Lazareva

 

 

Num ímpeto de rápida liquidação de stock, atirei
para a montra do poema tudo o que tinha em reserva:
imagens, símbolos, metáforas, sinédoques, e
também aliterações e rimas, ficaram ao sol,
por trás do vidro sujo da estrofe, à venda
pelo melhor preço. Pouco importa que houvesse
alguma flor de retórica ainda com as cores vivas
de um sentimento recente, ou uma invocação
feita de anáforas frescas como a erva do campo:
foi tudo a preço de saldo, e quem não
quiser comprar leva de brinde a chave de ouro
de um soneto em segunda mão, e se ainda assim
protesta vai para o gabinete das provas
de onde pode espreitar o rosto da musa
despenteada sob uma chuva de hipérboles. E
foi assim que os armários do verso ficaram vazios,
e os pude limpar do bafio da inspiração.

 

 

Poema Nuno Júdice

Janeiro 20/20

11

11
Jan20

dieta.jpg

 

Não comerei da alface a verde pétala 
Nem da cenoura as hóstias desbotadas 
Deixarei as pastagens às manadas 
E a quem mais aprouver fazer dieta. 



Cajus hei de chupar, mangas-espadas 
Talvez pouco elegantes para um poeta 
Mas pêras e maçãs, deixo-as ao esteta 
Que acredita no cromo das saladas. 

 

dieta1.png

 


Não nasci ruminante como os bois 
Nem como os coelhos, roedor; nasci 
Omnívoro; dêem-me feijão com arroz 

E um bife, e um queijo forte, e parati 
E eu morrerei, feliz, do coração 
De ter vivido sem comer em vão.

 

 

Poema de Vinicius de Moraes, ilustrações Agata Nowicka