Desobediência
Não me exijam
que diga
o que não digo
não queiram
que escreva
o meu avesso
não ordenem
que eu acene
o que recuso
não esperem
que me cale
e obedeça
Poema Maria Teresa Horta, in Estranhezas
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Não me exijam
que diga
o que não digo
não queiram
que escreva
o meu avesso
não ordenem
que eu acene
o que recuso
não esperem
que me cale
e obedeça
Poema Maria Teresa Horta, in Estranhezas
Um tipo adulto e novo no pedaço...
1º dia:
- Quero um pão com manteiga...mas quero tostado.
2º dia:
- Quero uma sandes mista...mas pode tostar?
3º dia:
- Estas sandes são de quê?
- Panado de peixe.
- Quero uma, pode por na tostadeira?
Há momentos da nossa vida em que nos questionamos sobre tudo. E em que as respostas parecem não existir ou pelo menos que nos satisfaçam, como se as respostas se direccionassem para outras perguntas, coisas das quais não queremos saber. É um questionário cíclico a que toda a gente se submete de livre vontade ou não.
Não queremos saber dos somatórios, numa aversão cega da verdade ou da conclusão. Empurra-se com a barriga o que se leva nas mãos ou na cabeça. Demasiado para alguns, leve para outros, desprezível para uns tantos.
Dá-se passos sigilosos, mansos e obedientes, onde se buscam compensações, por sermos subservientes. Como mulas carregadas de carga que relincham apenas sós e na noite, sem testemunhas que levem a mensagem da sua revolta e da sua desilusão.
Mantêm-se os sorrisos interesseiros, na esperança do final de contas, mas a conta nunca acaba, naquele livro de capa preta e riscado a lápis, onde a qualquer hora podem alterar-nos a soma. Entretanto fazem-se favores, como meios de troca, outrora eram búzios e conchas brilhantes, hoje podem ser boatos, conversas ouvidas, um botão velho, um caco de espelho.
Guardam-se então os livros das somas para as ocasiões especiais, afiam-se os lápis para poderem estar sempre prontos, mas não há estojo, nem prateleira. Nada pode ficar à vista, é tudo superficial, para que se esfume a qualquer momento, sem provas, sem culpa, sem nada de que se possa falar.
Ilustrações Paul Jones
Ilustração Karina Möller