Ilustração Greg Clarke
Confesso que já recebi presentes deste género dados pelo meu marido, não sei onde é que ele ia buscar a inspiração para tal, foram uma ou duas prendas assim...Até que um dia, num dia de aniversário dele, fui a uma ourivesaria e comprei-lhe um relógio de pulso, caixinha toda janota, lacinho a condizer, mas...
Mas isto não podia ficar assim, sou a favor da aprendizagem através da prática, do reconhecimento em corpo próprio do sentimento que causamos no outro...então comprei-lhe um magnifico relógio de cozinha, fiz a compra na mesma ourivesaria, a caixa era grande, toda catita, coisa fina, para impressionar, para recordar para a vida toda.
Chegado o dia, apronto-me e dou-lhe os parabéns mais efusivos do mundo, eu em ânsias de lhe entregar a prenda, estendo-lhe a caixa grande e vejo que ele está deveras curioso e com um sorriso de orelha a orelha para ver o que lá está dentro, o meu coração acelera neste momento tão dramático da minha vida, e penso que é agora, parece-me então que este momento é eterno, sinto que nunca mais termina...é agora que vais ver o que é bom para a tosse.
Ele pega na caixa maravilhosa, que eu fiz questão que assim fosse, tira a fita, rasga o papel, abre a caixa...e o sorriso desaparece-lhe assim como que por encanto. O meu coração ainda acelerou mais, boa ele está a sentir. E disse-lhe: é giro não é? É para a casa. Não tínhamos nenhum relógio de cozinha...E ele assim meio parvo responde que sim.
Deixei marinar um bocadinho, para tomar o gosto, depois fui buscar o outro presente, o relógio de pulso e entreguei-lhe a caixa como se fosse a primeira vez que estivesse a dar-lhe os parabéns nesse dia: Parabéns!
Foi remédio santo.
Feliz Dia de Reis!
Alice Alfazema