Em prol dos outros
Ilustração Christine Griffin
Fico muitas vezes a pensar no que é ser voluntário, ou fazer voluntariado. Dá-se muito apreço a quem faça voluntariado, é bom para o currículo, dizem-me. Dá diploma e prestigio.
Neste momento estou a ouvir o contrabaixo do andar de cima, a miúda dá à borla sessões de música para o andar de baixo. Agradeço-lhe, gosto de a ouvir, aquela música escorre-me pelas paredes e dá alento aos meus neurónios, e nem preciso de sair do meu sofá.
Geralmente o voluntariado está associado a grandes causas, às calamidades, aos centros de refugiados, aos hospitais, mas também podemos encontrá-lo em pequenos gestos do nosso dia-a-dia:
Naquele senhor que te diz bom dia sem te conhecer. Nos que te sorriem espontaneamente mesmo sem precisarem de nada. Na tua vizinha que alimenta os pardais da rua com o pão que lhe sobra. Nos músicos das bandas filarmónicas que passam horas em ensaios e depois dão espectáculos à borla. Na mulher que planta flores num espaço público. Nas pessoas que falam com os sem-abrigo quando vão a caminho do trabalho. Naquele jovem que vai de transporte público a ouvir alguém que precisa desabafar. No motorista que abranda a marcha para alguém que vem a correr para entrar no autocarro. Naquele que se levanta para te dar lugar. No que deu um cigarro ao que está a pedir moedas. Naquele que crítica de forma positiva. E todos os outros que partilham conhecimento sem pedir nada em troca.
Isto é mais ou menos aquilo que eu estava a ouvir.
Boa noite.
Alice Alfazema