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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Março dia 2 - Mulheres mãe SOS

02
Mar17

 

 

A Mãe SOS dedica a sua vida a crianças que não são suas, mas a quem deseja o melhor que a vida tem para dar. Dá colo, educa, mima e aceita as crianças como elas são, dando-lhes a segurança, a estabilidade e o carinho que tanto precisam. As Mães SOS são o núcleo fundamental das nossas famílias(...)

 

As Aldeias de Crianças SOS desenvolvem programas de proteção direcionados para crianças e jovens que por distintos motivos ficaram privados de cuidado parental, proporcionando uma nova oportunidade de crescerem felizes.

 

As Aldeias de Crianças SOS são membro da UNESCO e conselheiro do Conselho Económico e Social das Nações Unidas.

 

Saber mais aqui.

 

 

Alice Alfazema

Março dia 1 - Mulheres e patroas

01
Mar17

 

Ilustração Elaheh Taherian

 

Há homens que têm patroa. Ela sempre está em casa quando ele chega do trabalho. O jantar é rapidamente servido à mesa. Ela recebe um apertão na bochecha. A patroa pode ser jovem e bonita, mas tem uma atitude subserviente, o que lhe confere um certo ar robusto, como se fosse uma senhora de muitos anos atrás.

Há homens que têm mulher. Uma mulher que está em casa na hora que pode, às vezes chega antes dele, às vezes depois. Sua casa não é sua jaula nem seu fogão é industrial. A mulher beija seu marido na boca quando o encontra no fim do dia e recebe dele o melhor dos abraços. A mulher pode ser robusta e até meio feia, mas sua independência lhe confere um ar de garota, regente de si mesma.

Há homens que têm patroa, e mesmo que ela tenha tido apenas um filho, ou um casal, parece que gerou uma ninhada, tanto as crianças a solicitam e ela lhes é devota. A patroa é uma santa, muito boa esposa e muito boa mãe, tão boa que é assim que o marido a chama quando não a chama de patroa: mãezinha.

Há homens que têm mulher. Minha mulher, Suzana. Minha mulher, Cristina. Minha mulher, Tereza. Mulheres que têm nome, que só são chamadas de mãe pelos filhos, que não arrastam os pés pela casa nem confiscam o salário do marido, porque elas têm o dela. Não mandam nos caras, não obedecem os caras: convivem com eles.

Há homens que têm patroa. Vou ligar pra patroa. Vou perguntar pra patroa. Vou buscar a patroa. É carinho, dizem. Às vezes, é deboche. Quase sempre é muito cafona.

Há homens que têm mulher. Vou ligar para minha mulher. Vou perguntar para minha mulher. Vou buscar minha mulher. Não há subordinação consentida ou disfarçada. Não há patrões nem empregados. Há algo sexy no ar.

Há homens que têm patroa.
Há homens que têm mulher.
E há mulheres que escolhem o que querem ser.

 

 

Martha Medeiros, A mulher e a patroa, 1999.

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