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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Sofrimento

25
Out16

 

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É preciso muito para conhecer o sofrimento alheio, é necessário desprender-se das crenças enraizadas no nosso quotidiano, pensar, pensar além daquilo que conhecemos, daquilo que somos.

 

Hoje vemos o sofrimento como uma banalidade, como uma causa escolhida, vemo-lo na televisão, nos jornais e revistas, no bairro do lado, na cidade dos outros, em outros países, noutro continente.

 

A violência das palavras e das imagens fazem parte do menu do almoço e do jantar.

 

O sangue é vermelho e é igual ao meu e ao teu. As lágrimas correm da mesma forma daquelas que por vezes me correm na face.

 

Pensar para além é difícil, agir ainda mais.

 

Por vezes é preciso tão pouco, para quem não tem nada o pouco é muito. Não é dinheiro apenas, pode ser um pouco de confiança, um pouco de tempo, um pouco de amizade, de conversa, um sorriso, ajuda. Parece pouco mas pode ser tanto para quem nada tem (a perder e a ganhar). 

 

Vivemos agora no mundo como num concurso, onde damos uma resposta e esperamos algo em troca, algo palpável, que traga poder material e simbólico na sociedade, mas e se essa troca te der simplesmente tranquilidade e bem-estar? Não é válida essa troca? Onde consegues comprar tranquilidade? 

 

 

 

Alice Alfazema

 

 

Chuva, sono, silêncio e poemas.

24
Out16

 

Ilustração Anna Franczuk

 

 

 

Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva
Não faz ruído senão com sossego.
Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva
Do que não sabe, o sentimento é cego.
Chove. Meu ser (quem sou) renego...

Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece...

Não paira vento, não há céu que eu sinta.
Chove longínqua e indistintamente,
Como uma coisa certa que nos minta,
Como um grande desejo que nos mente.
Chove. Nada em mim sente...

 

 

 

Fernando Pessoa