Espantalhos
O espantalho é uma metáfora do sujeito que se sujeita aos hábitos do quotidiano.
No meio do arrozal, o espantalho parecia um homem de verdade. Batista havia caprichado. O chapéu e o terno velho que ostentava tinham vindo da Itália, foram de seu finado avô, que morrera há muitos anos. Tio Davi parou a cinco ou seis metros do espantalho. De longe, só se notava sua cabeça acima da plantação.
– Parece gente – comentou com as crianças. – O toco em que seu pai armou esse espantalho estava ali desde o começo do mundo. É o toco de uma madeira que dura a vida inteira, enquanto existir o mundo ela também existirá.
(PORTINARI, Antonio. Portinari menino. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980, p.111.)
À figura de espantalho, a que se impõe cada acção pensada como de inteligente, mas que no fundo apenas nos remete para o achincalhamento do outro. Pensará, então, que o espantalho estava naquele campo que era seu, no entanto enganou-se, afinal era ele o próprio espantalho.
Não é o fantoche mas o espantalho que te devora. Ao fantoche é-lhe dado voz e acção, ao espantalho é-lhe dado o sol, o vento, a chuva e a caca dos pardais.
A súbita, a dolorosa alegria de um espantalho inútil
Aonde viessem pousar os passarinhos!
Mario Quintana
Dei-me conta de que entre um e outro existe a intempérie.
Alice Alfazema