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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Troscas e truscas

09
Abr14

 

Ilustração Stephanie Augusseau-Vacqué

 

 

Se tiverem falhas de memória, ou se estiverem tristes, ou noutra situação qualquer em que precisem de descomprimir, leiam este texto pausadamente ou rapidamente, identifiquem os personagens com alguém que conheçam e divirtam-se, depois digam-me coisas. {#emotions_dlg.blink}

 

Era uma vez uma velha

maricutelha

ferrunfufelha

ferrou-lhe uma mosca

maricutosca

ferrunfufosca

e foi-se queixar ao juiz

maricutiz ferrunfufiz.

 

E o juiz maricutiz

ferrunfufiz

disse à velha 

maricutelha

ferrunfufelha

quando visse uma

mosca

maricutosca

ferrunfufoca

lhe desse com a moca

maricutoca

ferrunfufoca

e a velha 

maricutelha

ferrunfufelha

ao ver uma mosca

maricutosca

ferrunfufosca

na careca

maricuteca

ferrunfufeca

do juiz

maricutiz ferrunfufiz

deu-lhe com a moca

maricutoca

ferrunfufoca.

 

E assim, estou já baralhada, mas espero não ter escrito nenhum erruntosca.

 

Texto retirado do livro, O rato roeu a rolha da garrafa de Loureiro Neves.

 

Alice Alfazema

A senhora advogada

08
Abr14

 

A senhora advogada anda aos saltinhos, veste-se segundo a moda e tem um escritório. A mãe tinha uma mercearia, daquelas que nunca dão lucro, já a trespassou, agora não sei o que faz, talvez viva dos rendimentos. A senhora advogada é muito simpática para as senhoras professoras, dá muitos saltinhos quando se dirige para alguma delas, o sorriso fica completamente rasgado, que encanto. Também é muito simpática para com as meninas da secretaria toda ela é sorriso, parece que tem uma aura irradiando energia de várias cores, e dá saltinhos. Quando a senhora advogada entra na escola reconhece o pessoal que usa bata, mas não dá saltinhos, nem sorrisinhos, não vão elas reconhecê-la como a filha da merceeira e pedir-lhe legumes.

 

Alice Alfazema

Visão

07
Abr14

 

Os meus olhos são uns olhos.

E é com esses olhos uns

que eu vejo no mundo escolhos,

onde outros, com outros olhos,

não vêem escolhos nenhuns.

 

Quem diz escolhos, diz flores.

De tudo o mesmo se diz.

Onde uns vêem lutos e dores 

uns outros descobrem cores

do mais formoso matiz.

 

Nas ruas ou nas estradas

onde passa tanta gente,

uns vêem pedras pisadas,

mas outros, gnomos e fadas

num halo resplandecente.

 

Inútil seguir vizinhos,

querer ser depois ou ser antes.

Cada um é seus caminhos.

Onde Sancho vê moinhos

D. Quixote vê gigantes.

 

Vê moinhos? São moinhos.

Vê gigantes? São gigantes.

 

António Gedeão

 

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Alice Alfazema