Feijão verde
A bancada está cheia de feijão verde. Alguns quilos. Vem de Marrocos. Plantado no Deserto, já viajou mais do que eu.
A grande superfície comercial apresenta as mais variadas frutas e legumes, vindos de diversos países. Curiosamente de onde há menos variedade/quantidade é de Portugal, país onde se situa a grande superfície comercial.
Chego mais perto do feijão verde e vejo que já está amarelado, aquela luz que incide sobre ele parece que lhe dá mais cor. Além de amarelecido está também a ficar enrugado. 2.45€ o quilo. Ninguém lhe pega. O mais provável é que vá parar ao lixo. Estamos em crise. Os preços estão sempre em alta, as promoções resumem-se a cêntimos, como se de tesouros se tratassem.
Há ainda bananas podres, cebolas estragadas, tomates, iogurtes gregos quase fora de prazo, muitos queijos no mesmo rumo. Os preços, esses, mantêm-se em alta. Nunca apodrecem.
As entremeadas vendem-se bem. Os frangos pequenos também. Há um monte de roupa baratucha, daquela que depois de lavada tem as costuras todas torcidas e fica um número a cima. Com a malta a comer entremeada ao desbarato até é bom, pois vai crescendo o tecido assim como a barriga e os laterais.
Nos vinhos a coisa até nem está mal.
Dou a volta e passo outra vez ao pé do feijão verde, esse legume moribundo, quanta sopa desperdiçada. Política económica. Existe ainda um outro pormenor, que já vi por mais de uma vez, no talho há apenas mulheres a trabalhar, a chefe dá uma bronca numa delas em frente de toda a gente, com a voz firme, a outra encolhe-se. Uma chefe ao estilo bem português. Maravilhosa, tal e qual o feijão verde que está na bancada, amarelecida e enrugada, apesar da luz lhe favorecer.
Alice Alfazema