A ginjeira
A minha avó tinha uma ginjeira no quintal. A árvore dava fruto e segurava um estendal de roupa. A roupa baloiçava ao vento, elevada por um pau grande que se inclinava contra o vento, fazendo quase uma vela, como se fosse um veleiro que espera o vento para com ele navegar. E eu subia à árvore para avistar a cidade, o rio, as traineiras e o mar. O vento soprava-me na cara e elevava-me os cabelos. Se eu abrisse os braços poderia imaginar que voava. Se eu me levantasse com os braços abertos era quase, quase, um pássaro. Se eu fechasse os olhos era um voo pela cidade, pelo rio e pelas traineiras acompanhando-as até ao mar. Aí na barra o vento era demasiado forte e eu tinha de abrir os olhos.
Alice Alfazema