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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Marianne

23
Set12

 

Muitas vezes a história foi esquecida e há por vezes um pensamento geral de que as coisas são assim porque sim, sem outra explicação. A inércia em que se vive, esperando que os obstáculos sejam transpostos por anjos, e eis que os demónios do passado voltam.

 

" Olhe, camarada: quanto ao exercício da nossa profissão,  somos obrigadas, por vezes, a levantarmo-nos da nossa cama a qualquer hora da noite, isto é, quando ao industrial apetece, para virmos para a fábrica, muitas vezes debaixo de chuva, a fim de trabalharmos sete, oito, dez e onze horas, para ganharmos apenas 180 réis, que corresponde a 5 horas de trabalho. Para o industrial ganhar mais, obriga-nos  a trabalhos que só pertencem aos trabalhadores, como mouras, pregar caixas e trabalhar com as ferramentas e isto porque ganhamos menos e porque temos mais horas de trabalho que os nossos camaradas trabalhadores.

 

Quando nos falta dinheiro na féria, nem querem que a gente reclame essa falta, impondo-nos ao silêncio ou a rua.

 

Somos obrigadas a dar o peixe em volta das mesas, serviço que deve ser feito por rapazes, pois estamos expostas a insultos de elguns camaradas menos delicados.

 

Temos as multas, a que eles chamam "horas a baixo", e o castigo corporal para os nossos filhos e filhas, sem respeito algum pelo sexo e pela situação.

 

A maior parte das oficinas é tudo quanto há de mais porco. A água da salmoura corre pelo chão, encharcando-nos os pés, e o ar é empestado, chegando, especialmente de verão, a dar-nos desfalecimentos quase de sufocar.

 

As nossas filhas são muitas vezes chamadas ao escritório demorando-se tempo imenso, ficando nós em ânsias por saber o que se passa, vemo-las a vir chorosas, e ai de nós, já sabemos - é a desonra, a desfloração e ninguém os pune.

 

Rapariga bonita tem de ser amante do industrial, do gerente e de todos que a querem prostituir, pois que não pode haver respeito quando o mal vem de cima. Se alguma resiste, vem a multa, a pancada e, por fim, o despedimento, que é o principio da fome.

 

É isto, camarada, que nós não queremos sofrer mais. Estamos fartas.

 

Preferimos morrer, mas não ceder, porque depois ainda pior nos fariam."

 

 

Relato de uma trabalhadora da industria conserveira durante o movimento grevista em Setúbal, 26 de Fevereiro de 1911.




Recomendo este livro a quem, nunca passou por dificuldades que, pensa que tudo o que temos hoje nos caiu do céu, e sobretudo para aqueles que valorizam tanto o trabalho de outros povos e denigrem o povo português sem saber no entanto quantos sacrifícios foram ultrapassados ao longo destes 100 anos.





Alice Alfazema


Gotas de Outono

22
Set12

 

Houve um tempo em que eu não gostava do Outono, parecia-me uma estação decadente onde tudo estava à beira da morte. Mas, o tempo passa e as experiências mudam as opiniões e os olhares. Hoje, vejo o Outono,  assim, como um renascer de outras cores e de outras paisagens, uma estação tranquila que convida à reflexão, ao acolhimento e a momentos de descanso. 

 

Aproveitem para se renovarem, como fazem as plantas, eu vou tentar.

 

Alice Alfazema